1 de nov. de 2008
31 de out. de 2008
Sarau lírico, no Rio de Janeiro
Professor Sidney Carvalho e alunos convidam para o Sarau Lírico no Instituto Metodista Bennett, no dia 08 de novembro, às 18:00 H (SÁBADO).
A entrada é franca. Cada convidado poderá colaborar com alimentos não perecíveis, que serão devidamente encaminhados para os menos favorecidos
Carta do pintor Emiliano Di Cavalcanti a Astrogildo Pereira
Paris, 24 de setembro de 1937.
Meu Velho,
Você, que tanto ama Machado de Assis, deve ter a lembrança de um magnífico poema que ele escreveu e que termina assim: ...Mudaria o Natal ou mudei eu?
Neste mundo de hoje, mundo tormentoso e cruel e miserável, a noite de Natal enche-nos – a nós, que já passamos da idade das doces ilusões – de uma tristeza sem remédio. É a vil tristeza da desilusão.
Qual a melhor noite de Natal de minha vida? Eu me lembro de minha infância, na pequenina casa de São Cristóvão, de meu pai na cadeira de balanço, de minha mãe tocando sonata. O Natal de menino!
Depois, as noites de Natal quando desperdiçava minhas forças nas alegrias barulhentas dos anos vinte. No tempo que a vida não tinha para mim perspectiva, que era como uma estampa iluminada no gênero luxurioso das estampas persas. Não, essas noites de Natal não valem nada.
As outras noites que passei em Paris... Acho que uma noite dessas, eu, o meu querido Zeca do Patrocínio, já meio bêbados, encontramos um casal de velhos folgazões que procuravam companhia para o reveillon. Eram dois romenos. Subimos ao pequeno apartamento que eles ocupavam numa pobre casa do quarteirão latino. Era comovente. Bebemos perneaut e champanhe e cantamos as mais tristes histórias de nossos países. A velha romena quis cantar – não pode !
E o álcool e a sensibilidade me fizeram chorar, olhando a neve no telhado vizinho.
O ano passado passei o Natal com amigos daqui. Dois deles morreram tragicamente, um dia direi a você de que maneira.
O Natal desse ano me asfixia! Sinto-me prisioneiro de uma enorme e incurável melancolia. Se estivesse aí no Brasil iria visitar o túmulo de minha mãe, iria conversar com você que é o único amigo que ainda me resta. Mudaria o Natal ou mudei eu?
Não tenho escrito porque tenho trabalhado muito. Estou doente e fatigado. O seu Demóstenes, creio que vai breve por um portador. Aqui está fazendo muito frio e a vida está cada vez mais cara. Espera-se todo dia que a situação internacional nos leve à guerra. Não sei. Acredito que a guerra não virá nesses dois anos ou mesmo quatro. Quando ela vier, será como uma terrível apoteose aos baixos instintos do homem.
Sabe que tenho escrito muita poesia e pintado pouco. A poesia me seduz muito agora porque é tudo que pode haver mais gratuito e mais extra-conformista.
Abraço do seu
Di Cavalcanti
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30 de out. de 2008
J. Carlos, o cronista do lápis
Chargista, ilustrador e um dos maiores representantes do art déco brasileiro. Cronista do Rio e de seu tempo. Sobre a obra de J. Carlos, Álvaro Moreyra, poeta e contemporâneo do artista, profetizou:
“Um dia, decerto, no começo do próximo século, o Rio de Janeiro não possuirá mais a carioca; as raparigas das margens da Guanabara não se distinguirão das raparigas do resto do planeta: idênticas preocupações, atitude iguais, o mesmo modo de vestir, gravidade, pessimismo... Nesse dia, um curioso de coisas do passado encontrará, nas páginas de uma revista, as figuras de J. Carlos; encontrará a melindrosa, que ele inventou e que constituiu o modelo das nossas lindas contemporâneas.
O Rio de Janeiro de antigamente há de ressuscitar na expressão ingênua e irônica dos olhos que viram os primeiros aeroplanos; nas bocas talhadas à feição de beijos; no ritmo ondulante da carne envolta em sedas leves, luminosas, fugidias. E o curioso sentirá saudades do velho tempo que não conheceu... Velho tempo! Bom tempo! E compreenderá o sentido das praias, povoando-as das imagens guardadas no traço sutil do artista e verá, tal qual não vira antes, a luz das manhãs, a sombra dos crepúsculos, o luar das noites altas. Lenta, a maravilha despercebida se revelará. A cidade romântica, erma das suas transeuntes, voltará à fascinação abandonada... O ente que olhar, daqui a cem anos, as obras-primas de J. Carlos, poderá viver a vida que andamos vivendo...”
Continua, na postagem abaixo
29 de out. de 2008
Até quando?
A difícil poesia do nosso silêncio
Recebi ontem, em email de Bruno de Carvalho, uma seqüência de textos sobre um único tema: nosso criminoso silêncio. Não sei quem os reuniu e começou a fazê-los circular na internet, mas fez um excelente trabalho. Seja quem for, tenho certeza de que os quer divulgados, e reproduzo aqui. O primeiro poema foi escrito há um século. Os outros, vieram vindo depois. Até quando?
I - Maiakovski
Poeta russo “suicidado” após a revolução de Lênin, no início do século 20
Na primeira noite, eles se aproximam
E colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem,.
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho na sua casa, rouba-lhe a lua.
E, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada
Já não podemos dizer nada.
II – Bertolt Brecht
(Poeta e dramaturgo alemão,1898-1956)
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida, levaram os operários
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram os desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo
III- Martin Niemöller
(símbolo da resistência aos nazistas, em 1933)
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu
Como não sou judeu, não me incomodei
No dia seguinte vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista
Como não sou comunista, não me incomodei
No quarto dia vieram e me levaram.
Já não havia ninguém para reclamar.
IV- Cláudio Humberto
( Jornalista brasileiro, em 9 de fevereiro de 2007)
Primeiro eles roubaram no sinal, mas não fui eu a vítima
Depois, incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles
Depois fecharam ruas, onde não moro
Fecharam então o portão da favela, que não habito
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho
28 de out. de 2008
Ai, que vontade de comer Figos Ramy
( e algumas receitas para matar esse desejo)
Nossa memória é feita de imagens, odores, paladares e ruídos. Em Proust, e Em Busca do Tempo Perdido, um chá com madeleines deslancharia uma enxurrada de lembranças.
Ganhei uma caixa de figos bonitos e me lembrei dos Figos Ramy. Ao mesmo tempo, me vieram à cabeça a aparência brilhosa dos figos, todos arrumadinhos na lata preta, bem juntinhos, as mãos de minha mãe manejando o abridor, a mesa posta, a minha expectativa de quem espera abrir um presente, o cheiro da cozinha de minha casa de adolescente, e o sabor deles me voltou imediatamente à boca
Os Figos Ramy foram produzidos entre 1960 e 80, pela empresa CICA, pertencente à família Bonfiglioli, com base na grande quantidade de figos produzidos em Valinhos, e que também produzia a figada – uma pasta dura de figo, no estilo da goiabada ou da marmelada.
Eram alguma coisa entre figos em calda e figo-passa. Mais molhadinhos que costumam ser as passas - de uva, por exemplo - e bem menos que as frutas em calda. Também são descritos como figos caramelizados.
Era um produto caro. E delicioso.
Como o preço era “puxado”, a CICA não os produzia em grandes quantidades e nem sempre era fácil encontrá-los. Houve época em que íamos à Colombo comprar, porque lá sempre tinha.
Os Figos Ramy, reservados para os dias de festas e de visitas importantes, pelo preço, eram servidos puros, com sorvete de creme, enfeitavam assados e farofas de Natal, e, na casa do pintor Di Cavalcanti, vi servidos da maneira que me parece a mais gostosa: com laranja seleta partida em pedaços, com um pouquinho da pele.
O sabor conquistou o Brasil e chegou à Argentina. Mas a CICA parou de fabricá-los por volta de 1980, deixando saudades.
Quando Ana Maria Braga, há alguns anos, deu a receita dos Figos Ramy, foi um delírio.Eles fazem parte da memória, do patrimônio gustativo brasileiro. Hora de matar saudades E era tão fácil fazê-los.
Receita de Ana Maria Braga
Ingredientes:
30 figos em média, 1 k. de açúcar cristal.
Modo de preparo:
Retire os cabinhos do figo. Separe os figos em 4 partes iguais. Separe o açúcar em 4 copos de 250 ml.Ponha os figos e o açúcar em camadas na panela de pressão. Tampe e leve ao fogo sem água.
Quando a panela começar a chiar deixe por mais 2 minutos.
Desligue e não abra ainda por 30 minutos
Ficam iguaizinhos aos da CICA. Mas aqueles eram feitos com cabinho e tudo. Aliás, era bom de comê-los com a mão, segurando pelo cabinho. E, nos cadernos de receitas de minha mãe, encontrei também variações.
Figos Ramy, para quem não usa panela de pressão
Ingredientes:
24 figos maduros
1 canela em pau
700 gramas de açúcar cristal
Modo de preparo:
Lave bem os figos e escorra-os. Faça pequenos cortes no centro dos figos com auxílio de uma tesoura.acomode-os com os cabos para cima em uma panela grande, forrada com um pouco de açúcar.Acrescente o pau de canela e cubra-os com o restante do açúcar. Tampe a panela e deixe de um dia para o outro (não destampe mais). A seguir, leve ao fogo forte até levantar fervura. Abaixe o fogo e cozinhe por aproximadamente por 3 horas.
Ao que parece, os Figos Ramy não foram bem uma invenção da CICA. A empresa teria recolhido uma receita popular, tradicional, bastante conhecida das famílias de Jundiaí, onde se costuma acrescentar cachaça e café.
Figos Ramy com cachaça e café
Ingredientes:
32 figos maduros1 kg de açúcar cristal
1 pau de canela
3 cálices de aguardente (ou álcool de cereais)
1 copo (americano) de café forte sem açúcar
Modo de preparo:
Lave e corte o cabo debaixo da água para retirar o leite. Faça um corte de 2 cm de profundidade na parte mais larga do figo. Coloque-os com a parte do cabo para cima, no fundo de uma panela grande. Despeje o açúcar, a aguardente, o café e o pau de canela. Alguns gostam de acrescentar também uma folha de louro. Tampe e amarre a panela.
Deixe por 24h.
Leve ao fogo baixo por aproximadamente 3h até a calda ficar em ponto de mel. Retire os figos e escorra sobre uma grelha.
Algumas outras receitas, de iguarias feitas a partir dos Ramy, foram também encontradas nesta pesquisa.
Docinhos de Figos Ramy
Ingredientes:
4 figos Ramy (250 g)1 xícara (de chá) de amêndoas, sem pele, torradas e picadas (140 g)Casca fina de 1/2 laranja1/2 xícara (de chá) de Cointreau
Modo de Preparo:
Pique bem os figos e misture as amêndoas. Reserve. Corte a casca de laranja em tirinhas finas, com a ajuda de uma tesoura ou faca. Ponha as tirinhas numa frigideira pequena e deixe em fogo baixo para tostar e desenvolver o aroma de seu óleo. Não deixe queimar para não amargar.
Aqueça o licor em uma concha e quando incendiar, derrame-o ainda em chamas sobre as raspas, flambando-as. Misture--as ao figo e faça bolinhas. Passe no fondant ou caramelize.
Figos Ramy em Roupa de Gala
Ingredientes:
(as quantidades não estão especificadas nesta receita)
Figos Ramy
Massa de trufas
Chocolate ao leite para banhar
Modo de preparo:
Corte os figos ao meio e recheie com a massa de trufas
Banhe no chocolate, um por um , e coloque em forminhas grandes, forradas de celofane.
Ravioli de Figos Ramy
Para a massa:
500 grs de farinha de trigo
1 molho de espinafre
5 ovos
3 figos Ramy
I colher de sopa de azeite
150 grs de ricota fresca
Pimenta do reino
Queijo parmesão
Para o molho:
250 grs de nozes descascadas
250 ml de creme de leite fresco
100 grs de manteiga
Queijo parmesão
Modo de preparo:
Massa:
Cozinhar o espinafre sem o talo e passá-lo no liquidificador com pouca água, para formar um creme.
Juntar a farinha e os ovos e amassar até dar o ponto.
À parte, fazer o recheio , misturando a ricota, os figos bem partidinhos, o parmesão e um pouco de pimenta do reino.
Fazer os raviólis com a massa de espinafre e o recheio de figos.
Molho:
Dourar as nozes na manteiga até ficarem crocantes
Separar um pouco para salpicar sobre o prato e incorporar o resto ao creme de leite e o parmesão ralado
Bom proveito.
27 de out. de 2008
O Calendário de Márcia Cisneiros
O final de ano bate à porta. Ái! A frase se repete: “Passou, que eu nem vi”. E 2009 se anuncia.
Mas essa fase do ano, para mim e meus amigos, guarda, pelo menos, uma boa surpresa. O Calendário de Márcia Cisneiros. É a hora em que fica pronto. Vamos conhecê-lo. Já disse aqui o quanto gosto, quanto me comovem as figuras das mulheres da Márcia Cisneiros.
Depois, por todo o próximo ano, mês a mês, as carinhas dessas mulheres, na estante, na cabeceira, na mesa de trabalho, marcarão o passar de nossos dias.
Disputamos o calendário. Cada um quer vários. Para si mesmo, para os filhos, para presente de Natal. Um presente barato, e que sempre agrada a quem recebe. Acabam rápido.
Pois o novo calendário chegou. Vai aí uma amostra dele. e se também quiser um, o email da Márcia é marciacisneiros@yahoo.com.br
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