29 de out. de 2008
Até quando?
A difícil poesia do nosso silêncio
Recebi ontem, em email de Bruno de Carvalho, uma seqüência de textos sobre um único tema: nosso criminoso silêncio. Não sei quem os reuniu e começou a fazê-los circular na internet, mas fez um excelente trabalho. Seja quem for, tenho certeza de que os quer divulgados, e reproduzo aqui. O primeiro poema foi escrito há um século. Os outros, vieram vindo depois. Até quando?
I - Maiakovski
Poeta russo “suicidado” após a revolução de Lênin, no início do século 20
Na primeira noite, eles se aproximam
E colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem,.
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho na sua casa, rouba-lhe a lua.
E, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada
Já não podemos dizer nada.
II – Bertolt Brecht
(Poeta e dramaturgo alemão,1898-1956)
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida, levaram os operários
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram os desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo
III- Martin Niemöller
(símbolo da resistência aos nazistas, em 1933)
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu
Como não sou judeu, não me incomodei
No dia seguinte vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista
Como não sou comunista, não me incomodei
No quarto dia vieram e me levaram.
Já não havia ninguém para reclamar.
IV- Cláudio Humberto
( Jornalista brasileiro, em 9 de fevereiro de 2007)
Primeiro eles roubaram no sinal, mas não fui eu a vítima
Depois, incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles
Depois fecharam ruas, onde não moro
Fecharam então o portão da favela, que não habito
Em seguida arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho
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