Capa: Pirata - foto de Cássia Bianco - Ubatuba, 2010 La donna è mobile? ou Siamo tutti mobili?
Não sei se é verdade que as mulheres sejam especialmente inconstantes. Sou mais tentada a pensar que somos todos, homens e mulheres ( inconstantes). A morte de meu computador - e os que acompanham este blog puderam, de certa forma, testemunhar isso, deixou-me à beira da tragédia grega. Foi-se meu amigo, companheiro, confidente, partícipe de meus mais inconfessáveis delírios ( Só a ele confessava eu algumas coisas, só a ele). Eu era uma Electra, uma Antígona, uma Jocasta, no meu inconformismo. Nada me alentava. Recebi condolências, votos. O Bucaneiro Prateado, blog irmão, até manifestou solidariedade.
Naturalmente, não somos lineares,e convivia com minha dor, como nas viuvas rodrigueanas ( escclarecendo ao 'tradutor': de Nelson Rodrigues, autor brasileiro que tem viuvas assim em sua literatura), alguma sensação de alegria e liberdade, que só agora admito. Não mais a obrigação de responder emails, um tempo sem trabalho ( "Não dá.Tô sem computador"). Tempo para perder, jogar fora, preguiçar. Mas nada disso tornava menor o sentimento de perda.
Vendo-me assim inconsolável, um amigo ordenou: " Vai agora, imediatamente, comprar outro computador. Não pode é ficar desse jeito". Obedeci. Tudo que eu precisava era de alguém que tomasse essa decisão por mim. E afinal, nada como um novo amor para aplacar a dor de um velho.
Comprei. Voltei pra casa e aí... Bem , o novo companheiro, tão macio e cheiroso, gostoso, de toque suave... Ah, juventude, juventude! Como é exuberante a juventude, como é ... é... é... Como esse meu novo computador. Arejado. Moderno. Novos conceitos! Outra lógica! Nenhuma idéia cristalizada, sem vícios comportamentais, ainda virgem de neuroses, sem marcas do passado. É o novo. Vou descobrindo ele aos poucos, errando, acertando, desvelando seus segredos, como gosta de ser tocado...
E, olha, tem webcamera embutida! Detesto webcamera. Nunca pensaria em ter uma. Mas agora, na energia desse novo amor com tudo a descobrir, investigo. E descubro: posso fazer auto-retratos com uma webcamera. Nas minhas experimentações fotográficas, vivo tentando os auto-retratos. Mas, se volto pra mim o visor, saio da lente, se entro na lente não vejo que o estou fazendo. Já tentei o espelho, foi péssimo. Enfim, com este recurso posso acionar a camera me vendo no monitor. Posso estudar a luz, inventar, pesquisar efeitos...
E o monitor... é também aparelho de TV! Tão fininho e levinho. Posso jogar no lixo agora a velha TV. Não preciso mais de DVD-player, sai esse móvel inteiro.Imagem bonita. Rearrumo o quarto. Consigo mais espaço. Já dá até pra montar meu tear. Ô, festa! E sendo assim, vou fazer também uma cortina nova para ficarmos os dois, computador e eu, mais no escurinho. A casa se renova, o tear ficou ótimo, a vida se renova. E... em alguns dias, eu mal me lembrava do velho computador morto.
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ADEUS, PAULO MOURA
Paulo Moura - Ingênuo, de Pixinguinha
Pesquisando Romanelli, achei o seu blog! Muito bom .. Já estou seguindo .. Felicidades!!
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