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12 de jul. de 2010

A HORA DO ESPANTO

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No Brasil morrem dez mulheres por dia, assassinadas por homens. Uma a cada 24 horas só no Ro de Janeiro. Isto de acordo com pesquisa encerrada em 2007. Os números espantam. Espanta que, tendo chegado a tais números, alarmantes, estes não tenham sido atualizados desde então.

Neste momento dois crimes bárbaros de homens contra mulheres estão sendo investigados no Rio. O assassinato da advogada Mércia Nakashima pelo ex-namorado e o de Elisa Samudio, pelo goleiro Bruno. Este último seqüestrou, manteve em cárcere privado,torturou, matou, esquartejou e atirou as partes do corpo aos cães, desaparecendocom a ossada da... amante. Explico as reticências. A palavra amante, que eu já julgava em desuso, surge aqui na imprensa pelo fato de Bruno ser casado ( tem duas filhas. Mulheres). Caso contrário, ela seria chamada “namorada”. Uma forma talvez da imprensa revelar seu respeito às hieraquias morais da agonizante instituição familiar. De ontem pra cá, a TV Globo abandonou a palavra amante para usar “ a modelo Elisa”. Outra imprecisão linguística de cunho preconceituoso, em que a palavra modelo é utilizada como sinônimo de mulher “sem profissão definida”. Nada contra a indefinição profissional, de minha parte. Isto nada me diz sobre a pessoa. Mas, se a sociedade acha tão necessário ter uma profissão, por que não variar, e ora chamar de "modelo e atriz", ora de jornalista, dentista, engenheira... as que não tem? Por que sempre "modelo, ou "modelo e atriz"?

Estes crimes são cometidos por “homens que gostam de mulheres” - outro equívoco lingüístico, desta vez não da imprensa, mas da expressão popular que assim se refere aos heterossexuais. Expressão mentirosa. A misoginia não tem relação com a hetero ou a homossexualidade. É caracterizada pela aversão, o horror-pânico da mulher, pelo absoluto desprezo por ela. Portanto, estes homens não podem gostar das mulheres. Eles as odeiam. Não é possível amar a quem se despreza, E, por isso, ainda que tenham a heterossexualidade como prática, só são capazes de amar homens, seus iguais. Um melhor amigo, por exemplo. Não é então de se estranhar que o principal cúmplice de Bruno tenha tatuado nas costas uma declaração de fidelidade e amor verdadeiro e eterno ao amigo, enquanto a ele se unia para matar a mulher.

O caso Bruno daria inúmeros compêndios de psicologia, de antropologia, de sociologia, beheviorismo, questionando o mundo do futebol, da ascensão econômica, da Policia, da família enquanto instituição. Bruno teria dito antes do crime que precisava livrar-se de Eliza - que o perseguia exigindo o reconhecimento de paternidade do filho deles, teste de DNA, etc - porque ela punha em risco seu casamento e sua família.Também declarou que conhecera Eliza numa orgia. Se a engravidou, deduz-se que tenha feito sexo sem qualquer proteção. E aí não contava a proteção da família. Na principalíssima questão da saude. A "ameaça" só surgiu quando Eliza resolveu mostrar a cara, cobrar afeto e, implicitamente, direitos de herança do filho.

A mulher de Bruno foi também indiciada por participação no seqüestro, no cativeiro de Eliza e subtração de seu bebê. Para “salvar” seu casamento, também? Não por em risco sua família? Que espanto.

Entre outras coisas, a mulher continua sendo vista como o grande e principal agente da destruição de casamentos e famílias Ainda, como nas cartas de São Paulo, como na Inquisição, que a demonizavam. “O amor é feito capim, a gente planta, ele cresce e aí vem uma vaca e acaba tudo” – diz uma recente canção popular.

Relações fraudulentas de casais são mantidas na corda-bamba de mútuos ressentimentos. Mas se se perde a concentração e cai, a culpa reicará na maioria das vezes sobre alguma mulher, a terceira, a desavisada ( a vaca), que pisou em terreno proibido.

Misóginos existiram em toda a história da humanidade. E psicopatas ( é o que são estes assassinos frios e premeditados, não é?) Mas costumávamos pensar neles, vê-los no cinema e na literatura, como assassinos solitários, esgueirando-se em becos escuros na noite.Como Jack, o Estripador.

Espanta nestes dois casos citados que os psicopatas tenham cúmplices. No caso do goleiro, já são uma dezena de pessoas indiciadas. Dez psicopatas reunidos? Um congresso? Uma Walpursnacht. Ou terá este pobre rapaz que mal consegue se expressar numa entrevista, em que pese sua enorme habilidade no futebol, tamanha capacidade de persuasão? Espanta que entre eles haja pelo menos três mulheres, e pelo menos uma, a mulher do jogador, mãe. Mãe de duas filhas. Mulheres.

Espanta que mulheres como Eliza ( e são muitas), continuem a insistir nos seus casos de amor, mesmo depois de desqualificadas, ameaçadas, repudiadas, humilhadas, agredidas física e moralmente por estes homens hediondos, e a oferecer-lhes sempre mais uma chance, até a tragédia final. Por que? O que acontece com as mulheres?


Tatuagem de Macarrão, principal cúmplice de Bruno no assassinato de Eliza: "Bruno e Maka amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir Amor verdadeiro"

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