Para rever Lou
Quem como eu inventar de revirar a internet em busca de Lou Andreas Salomé , há de encontrar de cara e em primeiríssimo lugar, em cada resenha biográfica, a lista os homens que a amaram.
Lou Andreas Salomé foi amada, afirma-se, por Sigmund Freud, Paul Rée, Friedrich Nitzsche, Viktor Tausk, Leon Tolstoi, Rainer Maria Rilke, e alguns acrescentam ainda Richard Wagner .
Linda – mito de beleza da época – agudamente inteligente, talentosa, competente, doce, transparente, revolucionária e um espírito livre ( haverá algo mais atraente que um espírito livre?). Como se não bastasse, uma explosão de vida. Quem não a amaria?
Freud gostava muito de um trabalho seu, sobre erotismo anal. Disse que ali, naquele ensaio, Lou se superara.
Poeta, romancista, ensaísta, figura proeminente da Psicanálise emergente ou embrionária, fundamental no nascimento da Psicologia Infantil ( foi analista de Anna Freud, inclusive - filha de Freud , que lhe seguiu os passos no tratamento de crianças), ela, é claro, trabalhou duro sobre a libido – objeto central das pesquisas de Freud naquele momento. Seu mais importante livro chamou-se Erotismo (1919), seu trabalho sobre erotismo anal ( publicação, conferências, debates - mesma fase), virou de pernas para o ar o mundo acadêmico. E Freud reconheceu: "Ela é a poeta da psicanálise".
Lou viveu de 1861 a 1937 e a impressão que me dá hoje, setenta anos depois, é de que ainda não foi suficientemente digerida. Até pela ausência de seus livros no mercado. Mesmo no de livros técnicos, para estudantes de Psicanálise, História da Psicanálise, fosse como fosse.
Perdidos na lenda, entre a romântica protagonista das cartas de amor com Rilke, a improvável amante de Freud, a mulher dos triângulos amorosos, a adúltera que viajou a Europa com marido e amante, a plus-sexual ( porque tinha amigos gays de ambos os sexos e uma noite do século 19 entrou numa casa gay)... Quem foi mesmo ela, hein?
Quero vê-la. E se tanto gostamos das histórias de amor, não rejeito o atalho. Vamos começar também por aí, pelos homens que a teriam amado .
Freud :
"Seus olhos são como um Natal"
"Lou é um domingo"
“Uma mulher destituída da maioria das fraquezas humanas, de uma inteligência perigosa e notável”
A Freud, Lou sempre disse querer como a um verdadeiro pai. Da parte dele, se a amou, acredito, foi platonicamente, sem cama. Era convencional demais, conservador demais para se envolver sexualmente com outra mulher. Preservava os valores familiares, era mesmo dependente de Martha e Myrna, mulher e cunhada - as duas viviam para dar a ele a paz e o conforto de que necessitava para o fazer científico, cuidar de suas inúmeras mazelas, transcrever seus trabalhos em boa letra... Menos ainda, Freud se permitiria entregar a filha para ser psicanalisada pela mulher com quem se deitasse extra-conjugalmente. A Frau Lou , como chamavam as meninas de Freud. Envolvimento de todo contra-indicado no processo psicanalítico.
"Uma compreendedora"- a considerava Freud. Uma pessoa capaz de compreender em profundidade a alma humana. Enquanto ela, sobre Freud, afirmou:"o rosto paterno que presidiu a minha vida".
Lou e Freud
Lou escreveu a Freud, em 1911, e já então com cinquenta anos de idade, dizendo que pretendia ir para Viena, estudar Psicanálise, pedindo permissão para acompanhar seus trabalhos. Freud aceitou e ela se tornou uma obstinada estudiosa. Tão assídua e determinada que uma vez Freud lhe escreveu: "Senti sua falta na palestra de ontem à noite (...) Adotei o hábito de dirigir minha palestra para um determinado membro da audiência, e ontem mantive o olhar, como se enfeitiçado, no lugar que havia sido reservado para a senhora."
Victor Tausk
Viktor Tausk,
Viktor Tausk foi o mais proeminente discípulo de Freud. A Psicanálise só agora começa a lhe fazer justiça. Tausk suicidou-se aos 40 anos, em 1919, deixando em torno de si uma aura de fraqueza e decadência.
Todo suicídio é um mistério e há os que atribuam a Lou Andreas Salomé razões para o de Tausk. A Lou e a Freud. Sites e blogs na internet sugerem estranho e improvável triângulo amoroso Lou-Freud-Tausk, hipotética razão para a morte do infeliz cientista.
Não tenho pistas sobrea relação se Tausk e Lou, a não ser que trabalharam intensamente juntos, na equipe do Prof. Freud, mestre rigoroso, exigente, que em ambos muito investiu. Porque eram discípulos brilhantes e comprometidos, questionadores, estimulantes intelectualmente.
Nietzsche
Nietzsche: "Lou é um anjo demoníaco. É de longe a pessoa mais inteligente que já conheci."
E um dia, Nietzsche, o sisudo Nietzsche de quem ninguém espera uma piada, teve a idéia de posar para uma foto famosa com Paul Rée e Lou. Os dois homens puxando uma carroça no lugar dos cavalos, dentro da qual ia Lou, de chicote na mão.
Lou, Rée e Nietzsche ( à esquerda), em foto de Gorro Junes, famoso fotógrafo suiço
A foto é, ainda hoje, objeto das maiores especualções eróticas. Para alguns, a prova cabal de outro triângulo amoroso.
Nietzsche teve seu amor recusado por Lou, que lhe teria respondido: "Você não tem felicidade para me oferecer. Talvez mais tarde, depois que já tiver sofrido tudo." Ela tinha 21 anos; ele, 37. Nietzsche ficou melancólico, escreveu cartas acusadoras, chorou numa rua de Turim abraçado a um cavalo, deixou-se envolver em intrigas, por fim distanciou-se. Rompeu com os amigos, afundou-se no trabalho e produziu Assim Falava Zaratustra (1883-1884). Nunca mais se viram.
Passados alguns anos,em 1894, Lou escreveu Friedrich Nietzsche em Seinen Werken , uma investigação sobre o pensamento de Nietzsche. Vou precisar avançar sobre novo espaço de postagem para concluir. Continue lendo.
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