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14 de ago. de 2010

LOU ANDREAS SALOMÉ - Lou, onde está Lou ?

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"O sol se levantava quando Lou entrava numa sala" - Helena Klinkberg, escritora

Viemos da postagem anterior falando de Lou Andreas Salomé e dos homens que a amaram.Prossigo.


Tolstoi
Lou também recusou Leon Tolstoi . Não pretendia casar-se - disse - e andava agora mais preocupada com as coisas do espírito ( Lou de fato teve por tutor e guru o pastor luterano Gillot, famoso à época, e a busca espiritual e a religião estiveram sempre presentes nela). Voltou a ver Tolstoi anos depois, achando-o distante e estranho.

Talvez para ela, porque àquela altura Tolstoi produzia para o Teatro algumas das maiores obras da literatura universal.

Leon Tostoi

Paul Rée, o terceiro na foto da carroça

Filósofo positivista judeu e grande amigo de Nietzsche primeiro, depois inimigo , foi bem próximo de Lou. Conheceram-se em Roma, em 1882, e foi ele quem a apresentou a Nietzsche. Dividiram a mesma casa, numa mistura de amizade, ternura e intensa troca intelectual.Diz-se que por influência de Lou, Rée deixou, neste período , o vício do jogo.

Em 1887 , seduzida pela liberdade e a extravagância de Frederick Carl Andreas, intelectual rebelde em conflito com o mundo acadêmico, filólogo e orientalista, aventureiro, cientista de campo e de ar selvagem, com ele aceita casar-se em 1887, distanciando-se de Rée.

Em 1901, Rée foi encontrado morto em circunstáncias estranhas. A investigação policial aponta para suicídio e sugere que Rée fosse homossexual. Lou, até o final da vida, se sentirá culpada de não ter estado ao lado do amigo nas horas finais.

Andreas

Tinha 26 anos quando casou-se com Andreas ( ele, 41). O casamento durou até o final da vida. Andreas morreu a seu lado, aos oitenta anos, em 1930.

Quanto a Richard Wagner não consegui saber que fazia ele, com quase cinquenta anos mais que Lou, para figurar nesta listagem.

Rainer Maria Rilke, o grande, o inesquecível amor

Rilke: "Tudo que sou desperta por tua causa"

Rainer Maria Rilke, este, sim, foi o grande amor. Tinha 21 anos, ela 36 quando se conheceram, em 1897, Lou casada e em crise no casamento (depois superada. Lou não quiz, nunca, divorciar-se de Andreas. Os três - Lou, Rilke e Andreas viajaram juntos parte da Europa Oriental) , e viveram um amor de loucura durante tres anos.

Foi Rilke quem começou: poemas de amor anônimos chegavam pelos mais inesperados meios, rosas apareciam no chão como por mágica por onde fosse a dama passar.

Gostas de rosas? Parece-me agora que todas as rosas do mundo florescem para ti e graças a ti – e que apenas uma generosa renúncia tua permite à Primavera mantê-las e fingir que são dela” - Rilke a Lou Andreas Salomé, Correspondência Amorosa

Mas Rilke deprimia com freqüência, alternava humores, parecia inseguro. A alegria por que Lou tinha tanto apreço não rolava muito ali, ou só às vezes ele era alegre, descontraído e amoroso.

"A única perfeição é a alegria" - Lou Salomé

Depois, ficava um longo tempo encimesmado, sofrido. Ela reclamava que eram dois Rilkes. Mas o amava apesar disto, ou amava os dois. Olhando Rilke agora, com olhos de hoje, com olhos "senhores", avalio. Era só um menino. Em meio a um turbilhão de paixões.

Tapa-me os olhos: ainda posso ver-te
Tapa-me os ouvidos: ainda posso ouvir-te
E mesmo sem pés posso ir para tí
E mesmo sem boca posso invocar-te.
Arranca-me os braços: ainda posso apertar-te
Com meu coração como com a minha mão
Arranca-me o coração: e meu cérebro palpitará
e mesmo se me puseres fogo ao cérebro
Ainda hei de levar-te em meu sangue.

Rilke

Viagem à Europa - O pintor Munchen, Prof. Anftras, Rilke e Lou

No auge da paixão, enquanto trocavam cartas de amor de ficar para a História, Rilke foi trabalhar com Rodin, como secretário , em cujo ateliê trabalhava a jovem escultora Clara Westhoff, e a quem pediu em casamento. Lou purgou a dor da traição e do abandono.

Em carta, às vésperas das núpcias, ela diz a Rilke:

"Agora que tudo é sol e calma ao redor de mim e que o fruto da vida conquistou sua redondeza madura e doce, a lembrança que nos é certamente ainda cara a nós dois daquele dia de Waltershausen, em que vim a ti como uma mãe, me impõe uma última obrigação (...) Se te aventuras livre no desconhecido só será responsável por ti mesmo".

Ao que ele respondeu com um poema:


Permaneço no escuro como um cego
Porque meus olhos não te encontram mais
A faina turva dos dias para mim
não é mais que uma cortina que te dissimula.
Olho-a, esperando que se erga
esta cortina atrás da qual há minha vida
a substância e a própria lei da minha vida
e, apesar disso, minha morte.
Tu me abraçavas, não por desrazão
mas como a mão do oleiro contra o barro
A mão que tem poder de criação.
Ela sonhava de algum modo modelar –
depois se cansou,
se afrouxou
deixou-me cair e me quebrei.
Eras para mim a mais maternal das mulheres,
eras um amigo como são os homens,
eras, a te olhar, mulher realmente, mas também, muitas vezes, criança.
Eras o que conheci de mais terno
e mais duro com que tenho lutado.
Eras a altura que me abençoou –
te fizeste abismo e naufraguei.

( Correspondência Amorosa, Rainer Maria Rilke e Lou Andreas-Salomé, trad. Manuel Alberto, Relógio D'Água Editores,1994, Lisboa.)

Em 1905, cinco após o término do romance, o poeta a ela dedicava O Livro das Horas.

Rilke morreu de leucemia, aos 51 anos de idade, num sanatório suiço, em 1926. Ainda nos últimos momentos de vida, em delírio febril e agônico, chamou por Lou e pediu a um médico amigo que fosse buscá-la para lhe dar um sentido à morte.

Poucos anos depois, Lou lançou Rilke, Uma Biografia, a primeira do poeta.

Rainer Maria Rilke


Lou é mais


Mas repito: a sensação que tenho nesta busca é que Lou Andreas Salomé não foi até hoje devida e amplamente vista.

É hoje um vulto destorcido por notas de moralismo inconfesso e fantasias eróticas primárias.

Onde o seu tão importante papel na psicanálise? E seus textos, tão elogiados por Freud, nunca reeditados? Seus romances, considerados de excelente literatura ? Os contos para crianças, as maravilhosas reflexões sobre o amor e o erotismo das quais só nos chegam fragmentos. Os ensaios literários - Onde foi parar As Mulheres em Hendrik Ibsen ( Hendrik Ibsens Frauengestalten , 1892 ), tido como o melhor estudo já escrito sobre as heroínas ibsenianas? O livro sobre Nitzsche? A biografia de Rilke? As peças de teatro ( a surrealista O Diabo e sua Avó, de 1915 - sobre a visita do Diabo à Mãe Primordial)?

Não. O mundo moderno ainda não conhece, não viu Lou Andreas Salomé.

Viagem pela Europa. Lou, Rilke e o poeta Spiridon Drozin, em primeiro plano - Rússia

"Ousa, ousa... ousa tudo!! Sem necessidade de nada, sem adequar sua vida a modelos. Nem queira ser modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda a roubá-la. Sequestra-a." - Lou Andreas




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