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11 de jun. de 2009

A casa de Cora Coralina


A Casa Velha da Ponte

Fiquei hospedada no Casa da Ponte Hotel, em frente à Casa de Coralina. Cora viveu ali com a família até o casamento, quando foi morar em São Paulo, e, 41 anos depois, quando enviuvou, retornou.

Sua carreira de poeta começou , tinha mais de 70 anos.

Sua casa, ela a chamava de Casa Velha da Ponte," barco ancorado no rio Vermelho", rio que passa junto a ela, ladeada pela ponte que junta os dois lados da cidade.

De minha janela, no hotel, espiava a casa, em horas diversas. Via a Casa de Cora ao amanhecer, sob o sol escaldante do meio-dia, no cair da tarde, à noite – iluminada pelos lampiões.

Sempre acredito que é vendo onde e como vivem ou viviam os poetas que melhor se entende ou se materializa a sua poesia. Somos a forma como vivemos, o lugar onde vivemos, bastante. E assim, me sentia dentro da obra de Cora, como se transitasse, eu mesma, pelas páginas de seus livros, olhando ou espreitando a casa onde é proibido fotografar e que guarda ainda seus vestidos, livros de autoria e de leitura, fotografias, diplomas, medalhas...

A moça do museu me leva a conhecer a casa, hoje com aura e cheiro de templo. A começar da “varanda”. Aqui, mais ao sul, chamamos varanda uma área coberta, externa, da casa. Para os goianos é uma espécie de anti-sala, logo na entrada, onde se costuma receber as visitas. E era ali que Cora se sentava, à espera de quem chegasse. Foi lá, principalmente, que recebeu Jorge Amado, que , entre os autores que cultivaram a poesia de Cora, foi o único que a visitou. Drummond, principal responsável por seu lançamento na literatura nacional, nunca foi lá, porque não gostava nem um pouco de viajar. Condição de qualquer contato: Drummond não saía do Rio.

Duas fotos me chamam a atenção na parede da varanda: uma do pai, que Cora não chegou a conhecer bem. Morreu, ela estava nos primeiros anos. Um senhor, em roupas do início do século, sentado num tipo de sofá ou recamier. A moça do museu me disse que nesta foto ele já estava morto. Era usual, naquela época, fotografar os mortos, vestidos e sentados, como se vivos estivessem, sobretudo na província. E uma foto de Lampião e seu bando, também ali em homenagem ao pai, pernambucano.

Na cozinha, o mesmo fogão à lenha e os grandes tachos de cobre em que a poeta-doceira fazia os doces com que ganhava a vida.

Há também um singelo jardim e Cora dedicou poemas a seu jardineiro. Corre uma fonte de água pura no jardim de Cora, que bebi com reverência e simbólico prazer, como se aquela fosse a fonte da poesia, das musas, da inspiração que queria absorver.

Outro personagem da vida de Cora, referido em seus poemas é Maria Grampinho – uma andarilha, que andava com uma trouxa de roupa envolvida num pano enfeitado de botões, e dormia no porão de Cora, quando vinha. Maria Grampinho era assim chamada por usar mais de cem grampos nos cabelos.

Na continuidade do jardim está o pomar, mas este é vedado aos visitantes. De fora, reconheci uma mangueira, um cacaueiro, um pé de pequi, um cajazeiro, entre outras árvores frutíferas..

Fotografei a casa em horários diversos, ângulos diversos. Observem que Cora aparece na janela, numa peça de artesanato típico local, em cerâmica, que costuma reproduzir mulheres nas janelas ( como as negras, que publico no artigo acima, das janelas).

Com apenas um pequeno zoom como recurso da câmera fotográfica, do outro lado do rio Vermelho, de onde cliquei, não pude aproximar mais a lente, para ver melhor a Cora da janela.
















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