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21 de abr. de 2009

Histórias de Nasrudin

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Apresentação






Não por acaso AS HISTÓRIAS DE NASRUDIN sucedem a série IMAGENS DE DON QUIXOTE. São personagens afins. Diz Idries Shah, em Os Sufis, que Cervantes valeu-se de Nasrudin para a criação do Don Quixote. Cervantes viveu numa Espanha ainda muito impregnada da cultura árabe ( e isso é claro no Don Quixote), uma cultura, por sua vez, que já vinha impregnada de Nasrudin desde o século 12, por aí, porque ninguém sabe onde e quando surgiu Nasrudin. Fato é que Nasrudin e Don Quixote têm mesmo alguma semelhança. Se não são personagens irmãos, devem certamente ser primos, nas Esferas das Musas.


Você com certeza conhece Nasrudin. Mesmo que não esteja bem ligando o nome à pessoa.


Conhece, já ouviu suas histórias . Elas são centenas, milhares. E, se é leitor da coluna de Paulo Coelho no jornal, então, conhece mesmo. Muita gente que pergunto se conhece Nasrudin me diz que conhece de lá.


Eu o conheci, através de Pulo Cesar Peréio, nos anos 70. Não lhe dei muita bola. Nasrudin me pareceu bobo, sem graça. Depois fui topando com ele aqui, ali, e fui me encantando, me encantando, me apaixonando, querendo mais, procurando mais. Buscando, buscando, anotando suas histórias ( que são de transmissão oral), querendo saber mais do personagem. Na verdade, entendi que, quando não gostei à primeira vista era simplesmente porque não estava acostumada a seu tipo de humor. E, de qualquer forma, pro meu gosto, Nasrudin fica muito mais saboroso se, além de se conhecer suas histórias, se conhece também a sua história, a história de Nasrudin.


Compartilhar neste blogue os resultados desta pesquisa implica em iniciar uma nova série, depois do Don Quixote. Juntei mais de mil histórias de Nasrudin e um monte de arquivos de imagens e estudos, notas, autores lidos, etc. Não daria para uma única publicação.


Por enquanto, para apresentar-lhes Nasrudin, direi apenas que ele, entre os mais importantes autores , é tido como “uma das maiores realizações do humor universal”. Também diz-se dele, repetidamente, entre esses autores, que “Nasrudin é a própria piada”, "Nasrudin é a própria anedota". É o princípio do humor. E recebe, por isso, a alcunha de O INCOMPARÁVEL.


Seu humor é límpido, translúcido, rápido, profundo na unidade de sua obra, ainda que às vezes possa parecer bobinho, e, por isso, as histórias de Nasrudin são contadas e recontadas há séculos dentro das casas, à mesa das refeições, para ninar crianças, em todo o mundo árabe e islâmico.
Ele é um Mulá.Um estudioso das escrituras islâmicas e ensinará sobre Deus e o Homem de uma forma absolutamente transgressora.


Fisicamente, lhes diria que é alto, magro ( como o Don Quixote?), de barba, como é a maioria das vezes desenhado. Mas há também versões dele baixinho, gordinho, muito gordo, etc. Mas sempre com um grande turbante na cabeça. Ele é isso. É todas as possibilidades de representações gráficas.


A característica principal de seu humor é a inversão da lógica. Tenta com isso provar que não há uma única lógica, alógica formal, observada por todos, mas várias delas, e a gente tende a ver só a que está mais óbvia. “Vim ao mundo de cabeça pra baixo e por isso o vejo de pernas pro ar” – diz ele. É provocador.


A mais conhecida história de Nasrudin, A Chave, é um verdadeiro enigma. Conta ela que Nasrudin estava de quatro, no chão, quando passou um vizinho e perguntou:
- Ô, Nasrudin, o que você está fazendo?
Ao que este respondeu:
-Procurando minha chave. Ela caiu e não consigo achar.
O Vizinho:
-Bom, vou te ajudar, senão não conseguirá entrar em casa.
E o vizinho também se colocou de quatro em busca da chave. Muitos minutos depois, perguntou:
- Nasrudin, você tem certeza de que perdeu aqui essa chave? Já procuramos tudo, e nada!
Nasrudin:
-Não, eu a perdi lá em cima.
-Ora bolas, por que então estamos procurando aqui?
Ele:
- Porque aqui há mais luz.


Qual seria a enigmática mensagem desta história? Para Idries Shah, a moral aqui história é: “Não adianta procurar onde não há luz”. Contudo, a interpretação do autor não é definitiva, e outros autores encontrarão outros sentidos.

Mas nem todas as histórias são enigmáticas ou de de interpretação difícil. A Chave me parece o único caso, um caso de excessão. Entre todas as histórias que consegui reunir.


Vou contar mais uma, para que se familiarizem com o personagem e, depois, na próxima semana tem mais.



BRIGA DE MENINOS


Os meninos brigavam na rua, quando vinha passando Nasrudin:
- Quê isso?! Por que brigam desse jeito?
- Ah, Nasrudin. Ainda bem que você chegou. Brigamos porque ganhamos um saco de balas pra dividir entre nós, e não estamos sabendo fazer isso de forma que satisfaça a todos. Você poderia dividir pra nós?
Pergunta Nasrudin:
-Tá bom. Mas como vocês querem que divida, de acordo com a lei de Deus ou a lei dos homens?
O menino pensou, consultou os outros, e todos responderam, seguros:
- Com a lei de Deus, claro.
- Ah, então vamos lá: Um pra você, dez pra você, nada pra você...
- Ô, Nasrudin. Que divisão é essa?
- Vocês não quiseram a divisão pela lei de Deus? Então, pela lei de Deus é assim: Muito pra um, nada pra outro
...









Jean Cocteau - poeta, dramaturgo, artista plástico, um dos mentores do surrealismo












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