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9 de dez. de 2008

Me chama de menina

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Bárbara Nunes (Uns & Outros ) quer publicar seu livro de poesias. Me pede ajuda, na seleção. “Claro – digo – adoro seus poemas”. São delicados, fáceis. Fáceis porque nascem facilmente, de pura inspiração. E porque nascem facilmente, facilmente se entranham na gente. E poesia é isso. Se é boa, entranha.

E tão femininos. Ah, gosto, gosto muito, sim. Gosto bastante.

Quantos poemas, quantas páginas, tem tema o livro, não tem, entram também os desenhos? (dela). Entram, lógico que entram. São tão despretenciosos e fáceis quanto os poemas. São fofos – diria alguém deste tempo.

Há poemas suficientes para um livro, não há... Talvez deva escrever mais, mas poesia não sai assim, quando se quer...

E ontem chegou mais um. Fiquei prosa, como dizia minha avó. Prosa, prosa. Acho prosa uma palavra linda. Precisa. E em se tratando então de poesia, prosa cai bem à bessa. Ganha duplo sentido. Melhor que orgulhosa – que é clássico. Melhor que metida, que veio depois. Porque metida é quem se mete (onde não é chamada, talvez?). Gosto também de “se achando” – tem humor. Marrenta é bom, mas mais abrangente.

Fiquei “me achando”, pronto.

Não disse: Pra você. Fiz para você. Não disse Não disse nada. Mas sou eu. Me reconheço.
Andei dizendo em Confissões que escrever memórias é como fazer uma arqueologia da gente mesmo. Um escavar exaustivo de esqueletos, culturas, crenças, personagens, mitos próprios, símbolos.

Eis o poema da Bárbara:


A ARQUEÓLOGA

a menina
brincava consigo
de arqueologia
às avessas

escondia
pelos cantinhos do parque
pequenas dicas
de sua personalidade

depois sentava-se
à sombra de uma árvore grande
a imaginar
uma reconstrução de si mesma
a partir daqueles fragmentos

depois de pouco tempo
a menina ria e ria
tanto pela figura confusa
que concebia
quanto pelo fato
de esconder juntas
verdades e mentiras

e nessa arquelogia
da menina
às avessas
às vezes se passava
uma tarde inteira


.

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