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4 de set. de 2009

VANUSA - CARTA ABERTA

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Foto - Origem: musicapopulardobrasil.blogs



Prezada Vanusa,

Não nos conhecemos, mas tomo a liberdade de lhe falar, e com alguma intimidade, em nome do tanto que lhe devo, das tantas alegrias que me deu na primeira juventude, quando a Jovem Guarda embalava nossos sonhos e sono. Hesitei em tornar públicas estas palavras, porque no Brasil, “um país sem memória”, tudo será esquecido no dia seguinte. Pelo menos na Política, no crime e nas conquistas no trabalho. Torço para que o lamentável episódio do qual foi vítima seja também logo esquecido, e você continue a brilhar como a estrela carismática que é e sempre foi. Assim, gostaria de estar fora do rol dos divulgadores deste fato desastroso.

Mas foi maior meu impulso de expressão.

Em defesa de nosso hino, levantam-se vozes. E , pela primeira vez em muitos anos, parei para pensar nos seus significados.Temos um dos hinos mais bonitos do mundo – afirmam. E acredito. E o que este hino provoca em nós? Por que me comove? Os grandes hinos, como o do Brasil, ou a Marselhesa, são aqueles que nos impelem a um sentimento de irmandade, de unidade com o outro, a um olhar generoso e bom em relação a nossos compatriotas. Quando ouço o Hino Nacional, a memória atávica, de meus pais e meus avós e bisavós, aflora em mim. Inconscientemente repasso a História desta Nação que é nossa. E sou tão grata a todos aqueles que a fizeram , que contribuíram e contribuem para que sejamos quem somos. Sou orgulhosa de nossas lutas, vitoriosas ou não. Sou grata a cientistas, pedreiros, artistas, lixeiros, heróis...

Sou grata a você, mulher, por sua contribuição em 50 anos de trabalho ( só o trabalho constrói uma nação de verdade) e cujas dificuldades e sucessos, que começaram era você ainda tão menina, testemunhamos. Você é um pedaço do país, de nossa história e bandeira, de nosso hino, de nossa brasilidade, de nossa identidade cultural.

E, sem perder la ternura, sinto ainda fortalecido em mim o desejo de justiça, o ensejo de luta contra os que espoliam e maltratam meu país. Nesses, sim, deveríamos concentrar nossa indignação. Uma indignação que – vamos e venhamos – dela andamos bastante carentes, enquanto, irascíveis e maus, despejamos toda raiva na cabeça de nosso vizinho inocente.

Então, quando você erra o Hino Nacional, sendo você quem é, a artista que é, com a sua dignidade e história, entendo. Entendo que algo de grave aconteceu ali. Não sei o que foi. Mas algo de muito grave aconteceu. Se não se sentia bem, por que não foi embora?” Fácil dizer isso, para quem está de fora. Para quem não conhece o peso da cena, sua adrenalina e urgência, o peso da responsabilidade de um compromisso profissional. Verdadeira obsessão de muitos artistas, que tantos já levou, em toda a vida, em todo o mundo, ao mesmo equívoco, de pensar que podia, quando não tinha nenhuma condição de entrar em cena. E que é maior, na justa proporção em que maior também é a história que se carrega nas costas. Peso e responsabilidade que mais vitimam os grandes artistas que os medíocres.

E quando erra, e erra tanto, o Hino Nacional, me ponho na sua pele, sofro com você, me encho de ternura, tenho vontade de te abraçar e dizer palavras de consolo: Tudo passa, irmãzinha. Devia ter ido embora. Imagino seu desespero: Por que não fui? OK. Você fez uma merda quando não foi embora. Mas quem já não fez dezenas, centenas de merdas, e das muito grandes, pela vida afora? Quem? Quem já não acordou um dia com vontade de morrer pela merda monumental que fez na véspera? Quem nunca se arriscou, talvez? Como? E não é a vida um risco só, cara pálida?, “espectro de homem”, que passou pela vida sem viver. Não há quem lhe possa atirar pedras, Vanusa.

Vai passar. Passam os bons e os maus momentos. E este passará. Seu carisma é maior. Sua média é excelente: um desastre em 50 anos de carreira. Você é ótima. E como brasileira, amante de minha pátria, de meu hino, de minha bandeira, de meu povo, de nossa música, quero deixar aqui a você o meu grande abraço e minha irrestrita solidariedade neste que foi apenas um mau momento.

Tudo passa.


Um comentário:

  1. Cara Neila,
    Saúde, paz e sorte!
    Que maravilha! Tudo que Você escreveu, tudo que Vanusa já cantou. E, certamente, TUDO que ambas, fizeram, fazem e ainda farão, como seres humanos é e será maravilhoso.
    Meu domingo ficou ensolarado!

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