Ele não me sai da cabeça
Acordei com a última frase do poema na cabeça. Era já o terceiro dia que acordava com ela. Depois, ficava, o resto dia. E de noite, na cama, pra dormir, a frase lá. Como quando ouço a música de Jorge Aragão:"Ô, coisinha tão bonitinha do pai". É fatal. Passo dias, semanas perseguida pela música. A última frase, escrita nos dois últimos versos. Drummond. Mas como começa mesmo o poema, meu Deus? Não lembrava. Só a última frase, se repetindo. Só dela lembrava.
Aí, captulei. Puxei pela frase no Google, e lá veio, rápido, o poema inteiro em dezenas de endereços. O poema magnífico: O quarto em desordem.
O quarto em desordem
Na curva perigosa dos cinqüenta
derrapei neste amor. Que dor!que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor
que não sabe como é feita: amor
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar
a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo
verdade tão final, sede tão vária
e esse cavalo solto pela cama
a passear o peito de quem ama.
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