Na volta, Geraldo Azevedo

Show de estréia no Canal Brasil

Cheguei de Goiás Velho domingo último, a tempo de ver, no Canal Brasil, a estréia do show de Geraldo Azevedo, Uma Geral do Azevedo, gravado no Circo Voador, no Rio, com direção de Lara Velho e produção executiva de Gabriela Azevedo.

O show é já a base de um DVD, o primeiro de Geraldo, em processo.

Celebro assim minha volta, fecho com chave de ouro minha viagem. O show de Geraldo é luxo só. Aliás, Geraldo é luxo só.

Um mago no palco, um duende, uma figura intangivel, toda feita de luz.

E, que o nome de Geraldo Azevedo é já definitivo na MPB, que já atravessou duas ou três gerações e continuará atravessando as próximas, imortalizado, isso todo mundo sabe. Que ainda consegue ir ficando cada dia melhor, à medida em que vai ganhando cada vez mais intimidade com seu ofício e mais fácil vai lhe saindo a música, também.

Mas o que mais me fascina, me encanta, me faz perplexa é a relação extraordinária de amor entre ele e seu público. É amor, amor, amor sem limites, sem exigências, sem dores, sem nada de perverso ( como são muitas vezes os amores).

Geraldo passa no camarim, depois de cada show, mais tempo ainda do que passou em cena. Recebendo os fãs. Porta aberta para quem chegar. Dá quantos autógrafos lhe forem pedidos, tira quantas fotos desejarem os fãs, a seu lado. Só sai depois de atender o último . Fala, ouve, brinca, enxuga lágrimas... sem pressa.E eles são uma multidão, a cada show.

Nunca vi Geraldo sair de um teatro amparado por um segurança ou sair às escondidas pela porta de trás. Nunca o vi escurecer o vidro do carro. Nunca vi ele fugir de um fã, fazer cara feia , dar um muchôcho. Nunca o vi mostrar-se nem cansado. É prazer, é amor, esse contato.

E o meu prazer foi ver que isto está lá, no show. Está gravado. Um público fiel há gerações canta com Geraldo, sustenta no canto os silêncios que Geraldo faz para que seja ele ouvido. Muitos fãs cantam com todos os cantores, muitos conhecem cada letra, cada nota de cada uma de suas canções. Mas o que é deslumbrante, e se vê no show, é como canta o público de Geraldo. Não canta, só. suas canções, apropria-se. Sabe-se dono da canção. Ela sai lá de dentro, daquele pontinho mais íntimo que cada um tem, onde todos somos mais delicados. E planos gerais da platéia, planos também fechados, nos trazem isso, esse público tomado da música, para junto de nós. Levam-nos para junto dele.

Fica atento pra saber quando o Canal Brasil vai exibir de novo, se perdeu a estréia. Mas não perde. E vai ver que não exagero.

Geraldo Azevedo é um Buscador. No sentido mesmo da espiritualidade. É um Discípulo, ainda que não tenha um só guru. Um dia me disse uma coisa linda, quando conversávamos sobre o ofício do artista. E ele disse: “ São tantas as coisas que tentam desviar um artista de seu caminho, de sua verdade, tantas as punições que enfrenta toda vez que não compactua com o que não concorda, que, quando um consegue é porque o sujeito já deve estar lá na frente na escala da evolução. Se não se corrompe, é quase um Buda.” E eu o olhei, intimamente, inconfessadamente tocada, e pensei lá dentro de mim: “Então, acho que estou diante de um.”

Talvez por isso, brilhe nele essa luz de artista.