Da série HISTÓRIAS DE NASRUDIN
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À esquerda, estátua de Nasrudin, em bronze, no centro de Bukhara, Uzbequistão
Narudin é uma realização sufi.
A origem do sufismo se perde no tempo. É uma tradição de pensamento, passada de mestre a discípulo, um código de comportamento , digamos assim, se precisamos de alguma definição. Porque o sufismo não admite rótulos, e não pretende chamar-se nem de filosofia, ou religião ou misticismo, ou seja lá como for.
Como o próprio Nasrudin, a origem do sufismo se perde no tempo. Mas a maioria dos autores supõe que surgiu na antiga Pérsia.
A incrível lenda sufi
Conta-se que Ali, o fundador do sufismo ( figura literária, já que não é possível saber-se quem o fundou) vagava pelo mundo, à procura de um mestre que levasse o sufismo adiante no tempo. Não encontrava.
Um dia, Ali vinha passando numa praça, onde estava acontecendo um concurso de piadas promovido pelo Grande Vilão, arquiinimigo de Nasrudin, representante do pensamento único e normativo, da lógica única, da vida sem poesia, da grosseria, da vulgaridade, etc... E Ali parou para espiar.
Piadas grosseiras, discriminatórias, faziam o público rolar de tanto rir.
Até que chegou a vez de Nasrudin apresentar-se. Não arrancou mais que um sorriso da improvisada platéia e foi desclassificado. Saiu do palanque sob vaias.
Ali, no entanto, ficou fascinado com o talento do Hodja. De volta, em casa, Ali pensou muito sobre o humor e sua capacidade de penetração junto aos homens. E concluiu que era Nasrudin o mestre procurado, para levar ao mundo a tradição sufi.
Era já alta noite, Nasrudin dormia, quando Ali o visitou em sonho, e mandou que nunca se desvirtuasse do sufismo, por mais que caminhasse, por mais longe que fosse.
Assim, Nasrudin tornou-se mestre do Sufismo.
Perfeição
Nasrudin é um personagem perfeito. Já pude dizer aqui o mesmo a respeito do Don Quixote , de Cervantes. Personagens de estrutura tão perfeita que não se desvirtuam jamais, por mais que sofram adaptações no tempo e nas novas culturas para as quais for levado. A sua essência será sempre a mesma. E as adaptações, ao contrário de desvirtuá-lo, dão-lhe mais sabor e graça.
Duas histórias de Nasrudin
O Idiota
Nasrudin discutia sobre Deus, na casa de chá, com um sujeito que dizia conhecer tudo das Escrituras . Mas os dois não chegavam a uma conclusão.
Como estivesse ficando já muito tarde, o sujeito propões, em tom de desafio, que os dois se encontrassem para um debate público um outro dia. Aí, sim, o público iria julgar qual dos dois conhecia melhor o Alcorão.
Proposta aceita, o dia foi marcado e divulgado. Muita gente apareceu, menos Nasrudin.
Irritado, o rival foi à casa de Nasrudin, mas, como não o encontrou, escreveu no muro, em letras garrafais: IDIOTA.
Quando voltou para casa e viu aquilo, Nasrudin compreendeu o que havia ocorrido e correu à casa do sujeito, que o atendeu.
- Mil desculpas – disse Nasrudin . Não sei como isso foi acontecer, mas esqueci completamente nosso compromisso. Sabe quando uma coisa te sai completamente da cabeça? Só me lembrei mesmo quando cheguei em casa e vi seu nome escrito na parede.
No circo
E vinha o leão e delicadamente fechava a própria boca na outra extremidade do pão. Os dois permaneciam segundos naquela espécie de beijo, as bocas, coladas. Até que ela soltava o pão.
A platéia em suspense, explodia num único AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH!!!
Na saída do espetáculo o amigo perguntou:
- Gostou, Nasrudin?
Nasrudin fez que sim com a cabeça. O amigo, entusiasmado, prosseguiu:
- E aquela hora, hein?, da domadora e o leão. Que número fantástico.
Nasrudin:
- Eu não acho. Aquilo qualquer um faz.
- Faz nada Nasrudin. Como é que é isso? “Qualquer um faz”? Voc~e, por exemplo, não faz.
- Claro que faço
- Não faz, Nasrudin.
- Pois eu digo que faço.
- Não faz.
- O quê? Então você acha que eu não seria mesmo capaz de tirar o pão da boca daquela moça linda com a minha boca?
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