Os amantes amavam-se placidamente sob o temporal. Era uma chuva grossa, de vento, invasora. E eles ali, como se só os dois existissem no mundo. Não se intimidaram com minha presença. Nem da câmera, que, a essa altura, pingava, escorria, molhada demais que estava, da chuva. Não se vexaram com os risinhos do grupo de adultos e crianças que a todo momento vinha olhá-los. Não temeram a presença de predadores.
Amavam-se quietos, sem ruído ou movimento. Amavam-se estáticos, como quem morre. Li, em Wilhelm Reich, psiquiatra e pensador do início do século 20, que o significado da palavra orgasmo é pequena morte. E, à semelhança da morte, no orgasmo, naqueles segundos de orgasmo, tudo se dissipa. Fica só o branco. Some a identidade, tudo... como na morte. Pois estes amantes amavam-se assim, como quem morre.
Reich defendia a idéia do sexo estreitamente ligado ao amor. É preciso afeto, é preciso mútua e completa confiança, entrega, para se chegar ao orgasmo.
Eis que esses nossos amigos, estes amantes desavergonhados, esses dois bichos tão esquisitos, de aparência pegajosa e fria, assim se amavam, naquela tarde de outono, sob a braveza da chuva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário