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8 de jan. de 2009

O céu do rio São Francisco

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Adoro fotografar o céu. Às vezes imagino o que se passa na cabeça do outro, que me vê seguidamente direcionando a câmera para o céu, para o nada, e clicando.Outro dia ouvi alguém perguntando ao outro, enquanto fotografava: “O que ela está fazendo?” E ouvi a resposta:”Estudando a luz, eu acho.”

Estudando nada. Fotografando o céu, só. A câmera é minha boa companheira de brinquedos. Fotografo tudo: objetos, projeção de luz, insetos, animais, plantas, flores. Fotografo eu mesma, diante do espelho ou votando a câmera para meu rosto. Fotografo a vela acesa, fotografo minha própria cama refletida no espelho do guarda-roupa, fotografo a desordem de minha mesa de trabalho . às vezes interrompo o trabalho porque olhei pela janela, vi que a tarde estava linda, e câmera a postos, fotografo. Não sei quantas vezes queimei a comida, porque no meio do cozimento me distraí, fotografando lá fora.

Fiz assim com minhas crianças. Eu as fotografei de pijama, rosto inchado recém-despertado, fotografei chorando, rindo, brincando, tomando banho, dormindo, estudando, fotografei apenas uma nuca - tão bonitas acho as nucas das crianças, tão desenhadinhas - fotografei um gesto de mão, um jeito de colocar o pé.

E quanto ao céu, experimento sempre. Captar a lua ou a luz do sol estourando entre as árvores. Aqui na serra, as tardes dividem-se em prateadas e douradas. São irresistíveis. Mas são as formações de nuvens que me dão resultados mais precisos. E quando vou ao cerrado, então, onde o céu é denso, parece tão mais baixo que aqui no Rio de Janeiro, e as nuvens desenham carneiros em todos os tons de branco, de cinza, de azul...Volto com a câmera cheia de céus.

Meus amigos já se acostumaram. Quando recebem um cartão com a imagem de um céu, sabem que vem de mim. Os fotógrafos que trabalham comigo, dirigidos por mim nos áudio-visuais, estranham no início, depois também acostumam, quando lhes peço:”Tá vendo aquela nuvenzinha ali?. Faz uma imagem dela”.Sou do tipo minimalista, e lhes peço também outras estranhezas, como a textura da água ou a textura de um tronco. A textura, so, sem nenhuma referência outra, do corpo a que pertence. Eles estranham. Mas depois gostam. Na edição, esses minimalismos me rendem coisas bonitas, rendem pontos, rendem vírgulas, rendem imagens que parecem táteis, rendem sensações.

E aqui, nestas páginas de múltiplas postagens sobre a viagem ao rio São Francisco, não deixaria de mostrar também o céu que encontrei por lá.



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