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19 de jan. de 2009

As irmãs Linda e Dircinha Batista

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Texto escrito especialmente para o Geléia Geral por Luis Sergio Lima e Silva, ator, jornalista, pesquisador, autor do livro Isabel Ribeiro, Iluminada.
Imagens e legendas pesquisadas por este blog.




AS GENIAIS IRMÃS BAPTISTA
Luis Sergio Lima e Silva


As irmãs Linda e Dircinha são diamantes da nossa música popular. Fizeram história, deixando uma obra absoluta de referencia e valor.
Está tudo nos Googles da vida, nas publicações de pesquisadores e críticos, na memória-emotiva dos que viveram ou se envolveram e nas
gravações de seus discos.
No entanto, o lado humano, suas personalidades e suas idiossincrasias merecem um foco especial. Pra começar, vale sacar a letra que Haroldo Barbosa compôs para “Somos Irmãs”, e elas cantaram juntas com humor e muito charme, saquem só:

Dircinha - Somos irmãs, mas somos muito diferentes, lá na praia
toda gente acha o caso singular !

Linda - ...mas somos moças que tem tudo que é preciso para um
homem decidido com alguma se casar.

D - E se algum deles nos escuta neste instante, pode dar um passo
adiante se puder, ou se quizer !

L - ...Pois entre as duas,

D - ...Com igual facilidade,

L - Terá a felicidade de encontrar uma boa mulher !

D - Gosto de costurar, gosto de cozinhar,

L - Eu cá não pego agulha, não quero cozinha,
Sigo outra linha, ai, ai...

D - Noites de luar, não saio do meu lar,

L - Eu só fico na rua, toda lua me conhece, ai, ai!!

D – Eu procuro casar quando encontrar meu par,
Mas só quero um de cada vez pra namorar !


L - Pois se é pra casar ando a procura de um herói,
Porque sou muito pior que a barca de Niterói !!!

Quase profética, a letra sintetiza temperamentos que tornaram-se o marketing das duas carreiras individuais e vitoriosas. Dircinha, comportada, responsável, coerente e Linda, solta, farrista, malandra e debochada. Elas aprontaram ! Tudo que tinham direito.


Linda, a primeira Rainha do Rádio, sustentou o título por 11 anos, foi crooner do Cassino da Urca até seu fechamento em 1946, fez filmes na Cinédia e agitou o auditório da Rádio Nacional, bombando as paradas de sucesso fosse no carnaval ou meio de ano. Dircinha começou antes, aos 6 anos na Rádio Cajuti, aos 14 rodou “Alô Alô Carnaval” com Ademar Gonzaga, cantando “Pirata de Copacabana” (Braguinha-Alberto Ribeiro). Em 1938 estourou no carnaval com “Periquitinho Verde” (Nássara-Sá Roriz). Foi Rainha do Rádio em 1947, radio-atriz e nos anos 60, repórter (a melhor) de carnaval nas transmissões da TV Tupi canal 6. Como a irmã, também emplacou diversos sucessos carnavalescos.

A obra de ambas está super documentada, quero me deter no contato pessoal que tive com essas duas maravilhosas artistas.


LINDA NO CIRCO VOADOR (E DIRCINHA NO ORELHÃO)

Era 1984, eu fazia um programa de rádio com a querida Tânia Scher - “Rádio Pirata”, na Radio Melodia e Rede Serra-Mar. Nosso slogan era:
De Linda Baptista à Nina Haegen - um caldeirão que misturava tendências, modismos, comportamentos. Eu e Tânia nos juntamos ao Fernando Libardi, programador do Circo Voador, para uma semana de shows, homenageando os grande nomes do rádio. A programação ficou assim: shows com Nora Ney e a Orquestra Tabajara, Emilinha Borba e Luiz Gonzaga, Moreira da Silva e Ademilde Fonseca e no fim de semana, Linda Baptista na sexta e Linda com Isaurinha Garcia no sábado. Sem grana, sem patrocínio, só com a cara e a coragem, fomos à luta e debaixo
de muita ralação, conseguimos pagar todo mundo, ganhar bom espaço na imprensa, encher o Circo e beber muita caipirinha com os amigos. Incrível como a gente conseguia tudo, e não tinha fax, internet, celular, nem grana pra bancar nada. Isso aconteceu comigo e com a torcida do Flamengo, digo, com toda uma geração de artistas “malabaristas da sorte” que realizavam montagens de peças, shows, eventos, o que fosse.

Sabíamos que Linda estava retirada, morando com Dircinha e Odete (a outra irmã) no terceiro andar do apê da Barata Ribeiro 625, todas sem trabalho e com dívidas. Dircinha não aparecia pra ninguém há muitos anos, sempre atendia o telefone com aquela voz decidida e imperativa, falseando uma simpatia que a tornava deliciosamente engraçada e viva.
Pra conseguir falar com a Linda foi uma dificuldade. Dircinha nos despachava:” Não, minha florzinha, Linda não está. Não sei quando vai chegar, agora até loguinho, e uma beijoca, meu amoreco!” Desligávamos e morríamos de rir. Insistimos tanto que um dia, Dircinha atendeu, e dava pra ouvir a voz de Linda ao fundo, aí conseguimos ouvi-la:
“eu quero falar, eu quero falar”. Ela tomou o telefone e nos atendeu. Libardi, rápido no gatilho, fez o convite para duas noites no Circo com o cachet que pedisse. Fizemos um contrato e rapidamente deixamos na portaria.

Ela assinou e marcamos um encontro.Vendi a idéia para o Globo, eram 16 anos que a Rainha do Rádio Linda Baptista não se apresentava em shows. Linda nos recebeu, e a repórter Lucia Daddario, em casa.

Sabíamos que ninguém entrava lá há muito tempo, com exceção do cantor José Ricardo, o único amigo de todas as horas.

Linda nos recebeu de torço na cabeça, com uísque, balde gelo e uns biscoitinhos. Estava animada com o show, por tudo acho eu, pela lembrança de seu nome, pela grana que ia chegar em boa hora, pela saudade do palco. Dircinha não apareceu, mas no decorrer da tarde, eu a vi no corredor pelo espelho de uma cristaleira, uma figura magra, descabelada, que ficava no corredor tentando ouvir o que falávamos. Era ela. Quando Linda pediu que eu pegasse mais gelo na cozinha, vi que a sombra sumiu. Pude observar que ela estava de tocaia, reagindo a tudo com atenção e cuidado. Na segunda investida na cozinha, fui mais rápido e ainda peguei ela no corredor de costas. “Oi, Dircinha!”, provoquei, e sua
inconfundível voz me respondeu: “como vai?” e vazou.

Dia do show: Linda estava nervosa como uma estreante. Inventei um Cadillac para que ela chegasse na Lapa. Alugamos um em Jacarepaguá, e uma semana antes tivemos que levá-la até lá para fotografar para a revista Veja. Até aí tudo bem, mas no dia do show, a noticia do Cadillac nos jornais e revista, aconteceu o pior: o pneu furou no meio do caminho e o motorista não conseguiu chegar até Copacabana para apanhá-la. Como não tinha celular, fiquei desesperado na porta do Circo com a TV-E e seu monumental caminhão de externa agulhado pra transmitir sua chegada. No orelhão, liguei pro aparamento, onde Libardi e Linda, nervosos com tantos jornalistas na porta do prédio não sabiam o que fazer. Dircinha atendeu a mil: “Estão todos na portaria, isso aqui está um infeeeeerno!” Duas horas depois liguei de novo, o Circo lotado e uma situação que ficou difícil de segurar. Dircinha permitiu que Libardi falasse do corredor (sem entrar, claro, para não vê-la). Falei pra ele pegar um táxi e se mandar porque não dava mais para esperar. E assim foi feito.

O show foi um acontecimento. Linda cantou com a força, o carisma e a animação de sempre. Pediu antes de começar que a gente ligasse para a Dircinha durante o show para que ela ouvisse. Compramos umas vinte fichas e o Luiz Garcia, amigo que estava na trupe nos ajudando, ficou plugado, trocando as fichas sempre que cumprisse o prazo de validade da linha. Assim, Dircinha ouviu todo o show e especialmente uma surpresa que desconhecíamos: era seu aniversário naquela noite de 7 de abril, e Linda pediu que a platéia cantasse o Parabéns para Dircinha. Em seguida, levou dois hits da irmã, sendo acompanhada em coro por todos.

No segundo show, novas e mais fortes emoções: Linda e Isaurinha Garcia não se viam há muito tempo. Foi um show derramado, emocionante, todo mundo chorava, ria, gritava, tipo delírio. Uísque Natu Nobilis pra Linda, conhaque Domec pra Isaurinha. No final, carnaval na veia : “Nega Maluca”, “Pente de Careca é a Mão”, “Clube dos Barrigudos”, “O Cachorrinho do Lalau”, “A Índia Vai Ter neném”, “Ondina”, “Quero Morrer no Carnaval” e, claro, “O Primeiro Clarim” :
“Hoje eu não quero ninguém, hoje só quero cantar, deixei a tristeza lá fora, mandei a saudade esperar, lá-ra lá-ra,
hoje eu não quero sofrer, quem quiser que sofra em meu lugar!”




As irmãs , na fase de sucesso e riqueza,
em filme da Herbert Richers. Dois dos maiores salários do país, num mercado de entretenimento muito generoso, à época



Dircinha, em Mulheres à Vista, de J.B.Tanko , canta “Minha Terra Tem Palmeiras”. 1959.






Linda, no mesmo filme , canta “Não gostei do seu papel” ( Também aparecem na cena Grande Otelo e Estelita Bel).







Suely Franco e Nicete Bruno vivem, genialmente, no teatro, as irmãs, na últina fase, de decadência e loucura, em Somos Irmãs, peça de Sandra Lousada, dirigida por Cininha de Paula e Ney Matogrosso - 1998












2 comentários:

  1. Que beleza! Saudade não tem idade. É sempre bom poder rever as irmãs Batista e lembrar do sucesso que foram!

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  2. Neila .
    depoimentos maravilhosos como estes só me fazem ter mais certeza que já passou da hora de você escrever um livro de memórias.
    joão antonio

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