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12 de out. de 2008

Procurando Clarice Lispector

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Aconteceu de verdade.
O telefone tocou. Do outro lado, uma voz de mulher – parecia uma velhinha, pela voz:
- Aí é da casa de Clarice Lispector?
Trote. Brincadeira. Imitar voz de velha é relativamente fácil para alguns. Tento adivinhar quem está por trás.
- Não, minha senhora. Não é .
-Ah, a senhora pode me repetir o número para o qual liguei?
Repeti.
Ela:
- É esse mesmo o telefone que eu tenho. Mas faz tanto tempo! Quer dizer que esse não é mais o telefone dela?
Ganho tempo. Sou boa nesse tipo de adivinhação. Acabo ganhando sempre. Reconheço vozes com 20, 30 anos de distância. Reconheço-as disfarçadas.
- Esse telefone é meu, há mais de dez anos.
- Pena. Somos muito amigas, eu e Clarice. Mas não a vejo faz muito tempo. A senhora tem o novo telefone dela?
Difícil que fosse um trote. Havia muita sinceridade naquela voz. Mas, o quê, então?
- Não. Não tenho.
- Mas a senhora a conhece, não conhece?
- Clarice?
- Sim. A senhora a conhece?
- Infelizmente, não. Só dos livros. Não pessoalmente.
- Infelizmente mesmo, pra senhora, sabe?. É uma pessoa!... A senhora ficaria encantada se a conhecesse.
- Tenho certeza de que sim.
- Bom, está bem. Eu vou continuar procurando. Agradeço muito a sua atenção, viu?
- O prazer foi meu.
Desligou.
Fiquei cismando.
Se trote, não deveria terminar com a identificação do amigo brincalhão?
Ou não. Não sei.
Uma velhinha, perdida mesmo no tempo e no espaço?
Ou um personagem à procura de seu autor?

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