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4 de set. de 2008

Mulher absurda


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Êta, bicho esquisito, eu!

Eu sou, sem dúvida, um bicho do mato, uma pessoa inteiramente anti-social. Pra mim, mais de três pessoas já é uma multidão sufocante. Festa, pra mim, é tortura, asfixia.

Tá bom, sou tudo isso, admito.

Sou capaz de ficar em Lumiar, uma, duas semanas, mais, sem sair de casa, da casa isolada, no alto de um monte, sem ver uma única pessoa. E achar isso normal. Mais: achar gostoso.

Fico lá, ouvindo música. Ou não ouvindo nada. Porque, entre o silêncio e a música, ainda gosto mais do silêncio, tanto que gosto dele.

Sou assim, estranha, esquisita, absurda, avêssa.

Mas às vezes tento não ser. Ou ser menos um pouquinho. Então, me meto entre as gentes, ou sou obrigada às vezes a fazê-lo, por alguma razão extra-mim.

Vou. Sou simpática, carinhosa, delicada (delicada sempre, porque delicadeza eu cultivo. É talvez a única forma real, pra mim, possível, de fazer oposição à barbárie generalizada). De dizer:”Eu não concordo com isso. Não compartilho”. É sendo, pessoalmente, um delicado.

E não falo de boa educação, não, não falo disso. Falo de delicadeza mesmo, delicadeza de alma.

Mas, ái!...
...onde o espaço público da delicadeza? Onde?????

Acabo sempre me vendo na mesma cena. Ela se repete, como num pesadelo recorrente. E eu me repito: Minhas flores, minhas flores! Não poderiam passar ali pelo lado? Por que têm sempre que pisar os meus canteiros? São minhas flores, eu gosto delas.

Desfilam tratores, como tanques de guerra, passam por cima de minhas rosas. E eu pergunto, acuada, e surpresa, e tímida até: Por quê? Que necessidade têm de fazer isso? Estou sendo delicada ... Estou sendo cuidadosa com vocês. Por quê?

Tô mal. Tô sofrendo. Falo baixinho e doído. Mal respiro: Por quê? Eu cultivei essas flores com tanto carinho. Elas são importantes pra mim.

Não respondem, continuam a passar sobre os canteiros.

Aumento a voz: Por quê?

E os tratores continuam a passar, inalteráveis, como se não me ouvissem. Como se o ruido dos próprios motores abafasse minha voz.

E então eu grito: - Cheeeeeeeegaaaaaa.

Nada.

- Minhas flooooooreeeeessss.

Grito. Grito mais alto que o ruído dos motores, muito mais. Grito. Digo palavrões. Faço sinais obscenos. Viro selvagem. Ofendo.

E os caras dos tratores reclamam:
- Ih, que mulher mais grosseira, essa! Eu, hein?! Precisava gritar desse jeito, precisava?



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