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28 de jun. de 2010

.Capa: Foto de Adagoberto Arruda

A morte do computador

Sim, outra vez a edição atrasada. Desculpe o leitor. Mas saiba, não era esse o meu desejo. Nem foi por desleixo. Tenho um motivo forte. Luto. É morto meu computador ( “Acabou sua vida útil” – disse o homem na loja de informática. Vida útil? Ele não falaria desse jeito se fosse um ente querido seu). E fiquei por aí, doída, sem eira-nem-beira ( Como será que o tradutor automático traduzirá isso para outros idiomas?), sem acesso a meu blog, pedindo aqui e ali, implorando uma carona no computador de alguém, pelo menos para ler meus emails.

Viúva. Sem alguém para aquecer minhas noites frias. Para me ouvir em crises de ira e de ternura, para rir comigo, para me lembrar como se escreve mesmo aquela palavra ou como foi mesmo aquele fato, em que ano se fez tal filme filme... Noites vazias. Como as de Hedda Gabler, de Ibsen, que tem como última fala, ao cair do pano: “E o que que eu faço de minhas noites vazias?"( Ou será a Berenice, de Roberto Gomes, quem diz isso? Não sei mais. As duas peças são tão parecidas!...) Não importa. A fala agora é minha. Faço o quê, sem ele?

Faço o quê? Jogo no lixo? É lixo tóxico. Não posso simplesmente fazer isso. Meu compromisso com o planeta. Chamar a empresa que o produziu para buscá-lo, desmontá-lo , reaproveitar o que der, como civilizadamente faria com qualquer outro morto meu, entregando-o heroicamente à doação de órgãos? Pois sim! Acredita mesmo que viriam pegá-lo algum dia? E depois... Como jogar simplesmente no lixo essa criatura, tão dona de meus segredos, que me foi fiel, e só a mim , a mim e a mais ninguém, por tão longo tempo? Que preencheu meus dias e noites, ancorou meus sonhos, esteve comigo em meus projetos e delírios criativos, junto de mim pôs na mesa o pão de cada dia, me ajudou a fazer e a reencontrar amigos e amores passados, presentes, futuros... Tornou-se um pedaço de mim, um alter-ego. Jogar fora sssim? Sem nem ao menos um enterro decente, um caixão, um velório, sepultura - um lugar onde possa vez por outra deixar flores, rosas? Sem lápide, sem coroas, sem epitáfio?( Acho lindo, epitáfio!)... “Aqui jaz...( o que escreveria eu?)... o último ser fiel da Terra”. Não que seja verdade Verdade pra quê?. Nesses casos, basta ficar bonito, forte, usar imagens contundentes. “Pai amantíssimo, esposo dedicado... isso, aquilo”. Mentiras. Mas um morto precisa de palavras assim. Merece, porque, afinal, morreu.

Ái de mim, tristes depojos, triste de mim, infelicíssima de mim! Viagem infausta. Separação penosa....para meu desespero. Apenas desespero” ( Fala da Antígona, enquanto cava com as próprias mãos a cova para o cadáver do irmão rebelde, Orestes, privado de sepultamento). Cadáááááveer? Não, não consigo me referir assim a tais despojos. Poupem-me, por favor, poupem-me de chamar cadáver meu computador morto. E me aproprio do texto de Sófocles , num gemido trágico de abalar a vizinhança.

Tá bom. Chega. Não vejo um fim para minha aflição. Nem para este texto irresponsável, sem interesse para quem quer que seja.

Mas foi isso, exatamente isso que causou tão grande atraso desta edição.



Um comentário:

  1. Os objetos têm alma, sim, Neila. Meus sinceros sentimentos pela perda!
    Luis Sergio

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