Sri Ramakrishna e outras histórias

Ramakrishna, à esquerda

Essa é uma história contada por Ramakrishna.

Sri Ramakrishna foi um dos grandes mestres orientais da segunda metade do século 19 que conquistaram corações e mentes em todo o Ocidente. Sua doutrina, expressa principalmente no livro O Evangelho de Ramakrishna, é bem interessante de se conhecer.

Ramakrishana era eclético. Nasceu hinduísta, na casta dos kshastrias, migrou para o Cristianismo, onde permaneceu um tempo, passou pelo islamismio, conhecia bem as Escrituras Budistas, a Bíblia, os Vedas, o Talmude, conhecia o Ioga, entendia o kardecismo, o xintoísmo, e por aí vai. O resultado disto foi a elaboração de uma nova doutrina profundamente mística e profundamente poética, que preconizava, verdadeiramente ( e em palavras, ações e pensamentos) um Deus livre das limitações dos dogmas religiosos, um Deus único de toda a humanidade.

Ramakrishna é uma delícia de se ler. E isso, independente de você ter ou não uma religião.
Era um extraordinário contador de histórias, e, assim como Jesus Cristo transmitiu grande parte da doutrina cristã através de parábolas, Ramakrishna fazia igual. Vai-se entendendo o que pensa através das notas de seus discípulos das conversas com o mestre e das histórias que contava. Esse é o conteúdo do Evangelho de Ramakrishna.

O mais famoso discípulo de Ramakrishna foi Paramahansa Iogananda (imagem à direita), autor da célebre Autobiografia de um Iogue, outro documento sobre o ministério de Ramakrishna.

Ramakrihna morreu em 1886, deixando atrás de si uma história de vida exemplar. A história comovente de um homem que viveu coerentemente com o que o acreditava e pregava, até o último instante.

O SANTO E A SERPENTE era uma das histórias prediletas de Sri Ramakrishna.

O SANTO E A SERPENTE


Um homem santo caminhava de uma cidade a outra e parou numa pequena aldeia a fim de reabastecer-se de água. E ali lhe disseram que não seguisse mais pela mesma estrada. Uma cobra venenosa atacava quem sem piedade quem quer que por ela passasse.

O santo agradeceu, mas não ouviu os conselhos dos adeotas. Seguiu justo pela estrada vigiada pela cobra. E de repente, lá estava ela, com bote armado, diante dele, pingando veneno dos dentes, pronta para tacá-lo. Disse então o santo à cobra:

- Minha amiga. Você devia se envergonhar. Que sentido tem para você, que vantagem, morder e inocular o seu veneno nas pessoas? Vai. Segue o seu caminho. E de hoje em diante não volte mais a morder ninguém.

A cobra, se sentindo mesmo muito envergonhada, embrenhou-se no mato e desapareceu.
Passado um tempo, vinha o homem santo voltando pela mesma estrada, quando encontrou a cobra. Estava triste, acabrunhada, bastante ferida.

- Ô, minha amiga, me diz. O que está acontecendo com você?

Disse a cobra:
- Ah, mestre, nem pode imaginar o que tem sido a minha vida. Disse que eu não mordesse mais e obedeci. Logo todos perceberam que eu não representava ameaça a ninguém. Desde então, me atiram pedras, as crianças me pegam pelo rabo, rodam-me no ar e me atiram à distância, batem-me com pau, me chutam com suas pesadas botas...

E o santo:
- Amiguinha querida. Você não entendeu ou eu não fui bastante claro com você. Não foi bem esse o meu conselho. Disse que não mordesse mais ninguém, não que deixasse de assustar os homens para mantê-los à distância, com seus silvos e botes e seus dentes minando veneno.

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