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19 de jun. de 2011

AS QUADRAS, AS TROVAS

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As quadras cairam em desuso neste século. Mas já tiveram seu lugar de honra e de popularidade na poesia. Em certos tempos, morreram, dormiram... para depois acordar. Diletas filhas e irmãs das trovas medievais, as quadras são formas essenciais da poesia, sintéticas, enxutas, que, no modelo mais tradicional ( e mais próximo da trova medieval), contam com quatro versos de sete sílabas e obrigatórias rimas ( as mais usuais são ABAB, mas também podem ser outras: AABB, ABBA) que façam um sentido, contem uma história, descrevam uma visão, uma idéia completa.

Fernando Pessoa escreveu centenas de quadras, só publicadas em 1965, reunidas num único volume intitulado "Quadras ao Gosto Popular".

Quadras de Fernando Pessoa

Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei.

Dias são dias, e noites
São noites e não dormi...
Os dias a não te ver
As noites pensando em ti.

Teus brincos dançam se voltas
A cabeça a perguntar.
São como andorinhas soltas
Que inda não sabem voar.

Tenho vontade de ver-te
Mas não sei como acertar.
Passeias onde não ando,
Andas sem eu te encontrar.

Meu coração a bater
Parece estar-me a lembrar
Que, se um dia te esquecer,
Será por ele parar.



As trovas de Cecília

As trovas surgiram lá pelos séculos 12 ou 13, escritas em árabe. Levadas à Espanha pelos mouros, foram adotadas no Ocidente onde explodiram em popularidade do século 19 à metade do 20 - especialmente em Portugal - transformaram-se, ajustaram-se à poesia moderna, algumas perderam métrica e rimas ( trovas livres), mas mantendo sempre os quatro versos e a coerência do discurso.

Com a boa tradição literária portuguesa, as quadras chegaram ao Brasil, caíram no gosto dos poetas populares e da elite intelectual. E quase todos os poetas brasileiros dos século 20 fizeram quadras. Como Cecília Meirelles.

Ao lado da minha casa
morre o sol e nasce o vento.
O vento me traz o seu nome,
leva o sol meu pensamento.

Passarinho ambicioso
fez nas nuvens o seu ninho.
quando as nuvens forem chuva,
pobre de ti, passarinho.

Os remos batem nas águas:
tem de ferir, para andar.
As águas vão consentindo
esse é o destino do mar.

Na canção que vai ficando
já não vai ficando nada:
é menos do que o perfume
de uma rosa desfolhada.

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