Abri esta edição com Tom Jobim e Vinicius de Moraes em Primeira Página. E quero agora terminar com Vinicius, num dos mais emocionantes momentos da música brasileira no Cinema internacional. O Samba da Bênção ( também conhecido por Saravá), de Vinícius e Baden Powel, no filme Un Homme et Une Femme, de Claude Lelouch, com Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant, vencedor do prêmio Academy Award for Best Foreign Language Film, 1965.
Un Homme et Une Femme - Samba da Bênção, 1965
Samba da Bênção
Cantado
É melhor ser alegre que ser triste/Alegria é a melhor coisa que existe/É assim como a luz no coração/
Mas pra fazer um samba com beleza/É preciso um bocado de tristeza/É preciso um bocado de tristeza/Senão, não se faz um samba não
Falado
Senão é como amar uma mulher só linda/E daí? Uma mulher tem que ter/Qualquer coisa além de beleza/Qualquer coisa de triste/Qualquer coisa que chora/Qualquer coisa que sente saudade/Um molejo de amor machucado/Uma beleza que vem da tristeza/De se saber mulher/Feita apenas para amar/Para sofrer pelo seu amor/E pra ser só perdão
Cantado
Fazer samba não é contar piada/E quem faz samba assim não é de nada/O bom samba é uma forma de oração/
Porque o samba é a tristeza que balança/E a tristeza tem sempre uma esperança/A tristeza tem sempre uma esperança/De um dia não ser mais triste não
Falado
Feito essa gente que anda por aí/Brincando com a vida/Cuidado, companheiro!/A vida é pra valer/E não se engane não, tem uma só/Duas mesmo que é bom/Ninguém vai me dizer que tem/Sem provar muito bem provado/Com certidão passada em cartório do céu/E assinado embaixo: Deus/E com firma reconhecida!/A vida não é brincadeira, amigo/A vida é arte do encontro/Embora haja tanto desencontro pela vidaHá sempre uma mulher à sua espera/Com os olhos cheios de carinho/E as mãos cheias de perdão/Ponha um pouco de amor na sua vida/Como no seu samba
Cantado
Ponha um pouco de amor numa cadência/E vai ver que ninguém no mundo vence/A beleza que tem um samba, não/Porque o samba nasceu lá na Bahia/E se hoje ele é branco na poesia/Se hoje ele é branco na poesia/Ele é negro demais no coração
Falado
Eu, por exemplo, o capitão do matoVinicius de Moraes/Poeta e diplomata/O branco mais preto do Brasil/Na linha direta de Xangô, saravá!/A bênção, Senhora/A maior ialorixá da Bahia/Terra de Caymmi e João Gilberto/A bênção, Pixinguinha/Tu que choraste na flauta/Todas as minhas mágoas de amor/A bênção, Sinhô, a benção, Cartola/A bênção, Ismael Silva/Sua bênção, Heitor dos Prazeres/A bênção, Nelson Cavaquinho/A bênção, Geraldo Pereira/A bênção, meu bom Cyro Monteiro/Você, sobrinho de Nonô/A bênção, Noel, sua bênção, Ary/A bênção, todos os grandes Sambistas do Brasil/Branco, preto, mulato/Lindo como a pele macia de Oxum/A bênção, maestro Antonio Carlos JobimParceiro e amigo querido/Que já viajaste tantas canções comigo/E ainda há tantas por viajar/A bênção, Carlinhos Lyra/Parceiro cem por cento/Você que une a ação ao sentimento/E ao pensamento/A bênção, a bênção, Baden Powell/Amigo novo, parceiro novo/Que fizeste este samba comigo/A bênção, amigo/A bênção, maestro Moacir Santos/Não és um só, és tantos como/O meu Brasil de todos os santos/Inclusive meu São Sebastião/Saravá! /A bênção, que eu vou partir/Eu vou ter que dizer adeus/
Cantado
Ponha um pouco de amor numa cadência/E vai ver que ninguém no mundo vence/A beleza que tem um samba, não/Porque o samba nasceu lá na Bahia/E se hoje ele é branco na poesia/Se hoje ele é branco na poesia/Ele é negro demais no coração.
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