Segue abaixo o relato de Mara Silvia Alexandre Costa, que passou recentemente em um concurso público federal e foi trabalhar em Roraima. Trata-se de um Brasil que a gente não conhece.
As duas semanas em Manaus foram interessantes para conhecer um Brasil um pouco diferente, mas chegando em Boa Vista (RR) não pude resistir a fazer um relato das coisas que tenho visto e escutado por aqui. Conversei com algumas pessoas nesses três dias, desde engenheiros até pessoas com um mínimo de instrução. Para começar, o mais difícil de encontrar por aqui é roraimense; pra falar a verdade, acho que a proporção de um roraimense para cada 10 pessoas é bem razoável. Tem gaúcho, carioca, cearense, amazonense, piauiense, maranhense e por aí vai. Portanto, falta uma identidade com a terra.
Aqui não existem muitos meios de sobrevivência. Ou a pessoa é funcionária pública, e quase todo mundo é, pois em Boa Vista se concentram todos os órgãos federais e estaduais de Roraima, além da Prefeitura é claro, ou a pessoa trabalha no comércio local ou, ainda, recebe ajuda de Programas do governo. Não existe indústria de qualquer tipo. Pouco mais de 70% do território roraimense é demarcado como reserva indígena, portanto restam apenas 30%, descontando-se os rios e as terras improdutivas que são muitas, para o cultivo ou para a localização das próprias cidades.
Na única rodovia que liga Boa Vista a Manaus, (cerca de 800 km ) existe um trecho de aproximadamente 200 km da reserva indígena Waimiri Atroari, por onde você só passa entre 6:00 da manhã e 6:00 da tarde, nas outras 12 horas a rodovia é fechada pelos índios (com autorização da FUNAI e dos americanos) para que os mesmos não sejam incomodados.
Detalhe: Você não passa pela rodovia se for brasileiro. O acesso é livre aos americanos, europeus e japoneses. Desses 70% de território indígena, diria que em 90% dele ninguém entra sem uma grande burocracia e autorização da FUNAI.
Detalhe II: Americanos entram na hora que quiserem, e se você não tem uma autorização da FUNAI mas tem dos americanos, então você pode entrar.... A maioria dos índios fala a língua nativa além do inglês ou francês, mas não sabe falar português. Dizem que é comum na entrada de algumas reservas encontrarem-se hasteadas bandeiras americanas ou inglesas.
É comum se encontrar por aqui americanos tipo nerds, com cara de quem não quer nada, que veio caçar borboleta e joaninha e catalogá-las, mas no final das contas pasme, se você quiser montar um empresa para exportar plantas e frutas típicas como cupuaçu, açaí camu-camu etc, medicinais, ou componentes naturais para fabricação de remédios, pode se preparar para pagar 'royalties' para empresas japonesas e americanas que já patentearam a maioria dos produtos típicos da Amazônia.
Por três vezes repeti a seguinte frase após ouvir tais relatos: É, os americanos vão acabar tomando a Amazônia - e em todas elas ouvi a mesma resposta em palavras diferentes...
Vou reproduzir a resposta de uma senhora simples que vendia suco e água na rodovia próximo de Mucajaí: "Irão, não, minha filha, tu não sabe, mas tudo aqui já é deles, eles comandam tudo, você não entra em lugar nenhum porque eles não deixam. Quando acabar essa guerra aí eles virão pra cá, e vão fazer o que fizeram no Iraque quando determinaram uma faixa para os curdos onde iraquiano não entra, aqui vai ser a mesma coisa". A dona é bem informada, não? O pior é que segundo a ONU o conceito de nação é um conceito de soberania e as áreas demarcadas têm o nome de nação indígena. O que pode levar os americanos a alegarem que estarão libertando os povos indígenas.
Fiquei sabendo que os americanos já estão construindo uma grande base militar na Colômbia, bem próximo da fronteira com o Brasil numa parceria com o governo colombiano, com o pseudo objetivo de combater o narcotráfico. Por falar em narcotráfico, aqui é rota de distribuição, pois essa mãe chamada Brasil mantém suas fronteiras abertas e aqui tem estradas para as Guianas e Venezuela. Nenhuma bagagem de estrangeiro é fiscalizada, principalmente se for americano, europeu ou japonês, (isso pode causar um incidente diplomático). Dizem que tem muito colombiano traficante virando venezuelano, pois na Venezuela é muito fácil comprar a cidadania venezuelana por cerca de 200 dólares.
Pergunto inocentemente às pessoas: 'Por que os americanos querem tanto proteger os índios?'
A resposta é absolutamente a mesma: porque as terras indígenas, além das riquezas animais, vegetais e da abundância de água, são extremamente ricas em ouro (encontram-se pepitas que chegam a ser pesadas em quilos), diamantes, pedras preciosas, minério, e nas reservas norte de Roraima e Amazonas, ricas em PETRÓLEO. Parece que as pessoas contam essas coisas como que num grito de socorro a alguém que é do sul, como se eu pudesse dizer isso ao Presidente ou a alguma autoridade do sul que vá fazer alguma coisa.
É, pessoal, saio daqui com a quase certeza de que em breve o Brasil irá diminuir de tamanho..
Um grande abraço a todos. Será que podemos fazer alguma coisa? Acho que sim. Repasse esse e-mail para que um maior número de brasileiros fique sabendo desses absurdos.
Celso Luiz Borges de Oliveira, Doutorando em Água e Solo FEAGRI/UNICAMP
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