"MEUS AMIGOS ESTÃO INDO EMBORA"
Morreu Raul Solnado
Texto enviado por João Loredo, publicado na imprensa de Lisboa ( e em português de Portugal)
Raul Solnado morreu sábado, dia 8, aos 79 anos. O ator estava internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e não resistiu a um quadro de doença cardio-vascular grave.
Aclamado como um dos maiores nomes do humor português, Solnado estreou no teatro na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, em 1947. Em 1952 tornou-se ator profissional e um ano depois entra no teatro de revista com a peça ‘Viva o Luxo', no Teatro Monumental. O ator não mais parou, tendo participado em diversos filmes, como ‘Sangue de Toureiro' ou ‘O Tarzan do Quinto Esquerdo', nunca esquecendo os palcos do teatro.
Em 1961 interpretou um dos seus esquetes mais conhecidos ‘A Guerra de 1908', na revista ‘Bate o é', no Teatro Maria Vitória. Solnado ficou ainda associado a um dos programas mais populares da RTP ainda no tempo do Estado Novo. A 24 de Maio de 1969 gravou, juntamente com Fialho Gouveia, também ele já falecido, e Carlos Cruz o primeiro episódio do programa ‘Zip Zip'. Em Dezembro do mesmo ano, gravou o último episódio de um programa que marcou a ‘Primavera Marcelista' e provocou alguma polémica. Ainda na década de 60, Solnado criou e dirigiu o Teatro Villaret.
Em 1975 voltou à RTP, após a Revolução dos Cravos, com um programa de humor, "RISOFLÊ, RISOFLÁ", que foi dirigido pelo Diretor de Televisão, brasileiro, João Lorêdo, contratado especialmente para isso.
Seguiram-se peças de teatro e filmes e, em 1977, colocou-se à frente das câmaras para apresentar ‘A Visita da Cornélia'. ‘Há Petróleo no Beato' ou ‘Super Silva' foram outros dos êxitos de Solnado nos palcos em 1981. Ainda no mesmo ano voltou a fazer companhia a Fialho Gouveia e Carlos Cruz na apresentação do programa ‘O Resto São Cantigas'.
No filme ‘A Balada da Praia dos Cães', de José Fonseca e Costa, baseado no livro de José Cardoso Pires, ousou desempenhar um papel dramático. Em 1993 entrou no universo das novelas portuguesas, ao lado de Eunice Muñoz, em ‘A Banqueira do Povo'.
Após uma pausa de seis anos, volta aos palcos em 2001 para um papel de grande relevo na peça 'O Magnífico Reitor' de Freitas do Amaral. Recebeu nesse ano o Prémio Carreira Luiz Vaz de Camões. No ano seguinte, Solnado foi homenageado com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e recebeu, a 10 de Junho de 2004, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, entregue pelo Presidente da República Jorge Sampaio.
Nascido a 19 de Outubro de 1929, Raul Augusto Almeida Solnado morreu aos 79 anos quando se preparava para voltar à televisão, num programa que a RTP pretendia exibir ainda este ano. Era ainda Diretor da Casa do Artista, sociedade que dá apoio aos artistas, que fundou juntamente com Armando Cortez, também já falecido, entre outros.
REACÇÕES
'Ele mudou o sentido de humor, fez tudo o que tinha a fazer. Dificilmente alguém irá tão longe' - Herman José, humorista e apresentador de televisão.
'É talvez o maior ator da sua geração' - José Fonseca e Costa, realizador de 'A Balada da Praia dos Cães'.
'Raul Solnado foi sempre um dos artistas mais amados e mais admirados pelos portugueses; e, para várias gerações, foi também uma referência permanente com uma vida plena e intensamente dedicada à arte e à cultura' - José Sócrates, primeiro-ministro.
'É uma triste notícia, o país perde uma figura incontornável, um homem à sua maneira que deu a sua contribuição importante pela democracia' - Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP.
Nas décadas de 60, 70, Raul Solnado esteve com frequência no Brasil, chegando às vezes a aqui ficar por longos períodos, com turnês que cobriam grande parte do país. Fez também inúmeras participações na TV brasileira.Tinha aqui um grande e apaixonado público. E uma legião de amigos, pricipalmente entre intelectuais e artistas, com os quais conviveu intensamente e trocou infliências.
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