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29 de jun. de 2009

Charles Beaudelaire


Por que, Maldito?

Beaudelaire ( Paris,1821- 1867)

Não sei se foi a lua cheia que iluminou os céus esta semana, clara, clara, fazendo da noite dia... Não sei... Que motivos teria alguém como eu decidir “Vou ler poesia”, estender a mão na estante e tirar justo Beaudelaire, afundar a noite em Beudelaire?. Só pode ter sido a lua. A lua é assim, esquisita, má, obscura mesmo quando é clara e cheia.


“Ó Tu, o mais sábio e o mais belo dos anjos, deus traído pela sorte e privado de louvores! Ó, Satã, tenha piedade de minha longa miséria!”
Bonito, não é? Estranho. Meio que dá na gente um calafrio. Ui.


Poeta Maldito, eu sei. Beaudelaire é um Poeta Maldito. Mas que será que quer dizer isso mesmo?


“Como os anjos, com olho furtivo, Eu voltarei à tua alcova E até ti me deslizarei sem ruído Entre as sombras da noite; E te darei, minha morena, Beijos frios como a lua”.


Simbolista aqui, não-simbolista ali, precursos da poesia moderna, leio em Tânia de Souza ( Charles Beaudelaire e o charme do Decadentismo – link: http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1393059) que de Poetas Malditos foram também chamados Mallarmé, Rimbaud, Verlaine, “poetas que refletiram em seus versos a decadência moral e estética que marcava a sociedade européia do século 19.” Era a época também dos filósofos pessimistas – Shoppenhauer e Kiekegaard, e “... a poesia do Decadentismo explorava de forma aguda as atitudes anárquicas, o satanismo, a perversão, a morbidez, o terror”.

"Deus é o único ser que, para reinar, nem precisa existir".


Dança Macabra

Como um vivente, arrogante de sua nobre estatura

Com o seu grande buquê, seu lenço e suas luvas,

Ela tem a indolência e a desenvoltura

De uma coquete frágil de postura extravagante.

Já se viu alguma vez num baile uma aparência mais delgada?

O seu vestido exagerado, no seu real esplendor,

Se vira abundantemente sobre um pé seco que oprime

Um sapato adornado, belo como uma flor.


O enrugado que joga à beira das clavículas,

Qual arroio lascivo esfregando-se no rochedo

Defende pudicamente das troças ridículas

Os fúnebres encantos que ela sabe ocultar.


Seus olhos profundos são feitos de vazio e trevas,

E o seu crânio, com flores artisticamente penteado,

Oscila apaticamente sobre as suas frágeis vértebras,

Oh, encanto de um nada loucamente enfeitado.

Alguns te tomarão por uma caricatura,

Sem compreender, amantes ébrios da carne,

A elegância sem nome da tua humana armadura.

Tu respondes, grande esqueleto, com todo o meu prazer!

Vens agora turvar, com a tua imponente careta,

A festa da Vida? Ou algum velho desejo,

Incentivando ainda a tua vivente carcaça,

Impulsando-te, ingenuamente, ao Sabat do Prazer?


Com o cantar dos violinos e as chamas das candeias,

Esperas expulsar o teu pesadelo burlão,

E vens implorar à corrente das orgias,

Que refresque o inferno aceso no teu coração?


Inesgotável poço de necessidade e enganos!

Da antiga dor eterno alambique!

Através do retorcido gradeado das tuas costelas

Eu vejo, ainda errante, o insaciável áspide.


Na verdade, temo que a tua coqueteria

Não alcance um preço digno de seus esforços,

Quem, entre esses corações mortais, alcança o embuste?

Os sortilégios do horror só embebedam os fortes!


O abismo dos teus olhos, cheio de horríveis pensamentos,

Exala a vertigem, e os bailarinos prudentes

Não contemplarão sem amargas náuseas

O sorriso eterno dos teus trinta e dois dentes.


Mas, quem nunca apertou em seus braços um esqueleto,

E quem nunca se nutriu de coisas sepulcrais?

Que importa o perfume, o vestido ou o penteado?

Aquele que se enoja demonstra que se crê belo.


Bailadeira sem nariz, irresistível trotadora,

Diz-lhes, pois, a estes belos bailarinos que se fingem ofuscados:

“Arrogantes galãs, apesar da arte do pó-de-arroz e do rouge,

Exalais todos a morte! Oh, esqueletos perfumados!


Antinoos murchos, janotas de rosto suave,

Cadáveres envernizados, lovelaces grisalhos,

O alvoroço universal da dança macabra

Os arrasta até lugares desconhecidos!


Desde os cais frios do Sena até às margens ardentes de Ganges,

O tropel mortal salta e se pasma, sem ver

A trompete do Anjo numa cavidade do teto

Sinistramente boquiaberto como um negro trabuco.


Em todo o clima, baixo todo o sol, a Morte te admira

Nas tuas contorções, risível Humanidade,

E com frequência, como tu, perfumando-se de mirra,

Mistura a sua ironia com a sua insensatez.


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