7 de mai. de 2009
Lorca
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Vida, paixão e morte do poeta
1936. Eclode a Guerra Civil Espanhola, quando rebeldes do exército, comandados por generais da direita reacionária, de orientação católica extremista, dão início ao golpe militar que deporia a 2ª República. levando ao poder o temível general Franco. O poeta e dramaturgo Federico Garcia Lorca, socialista, é preso e condenado, sem direito à defesa, e executado por fuzilamento.
O mundo se choca. Um general franquista declara que “Lorca é mais perigoso com sua pena, que muitos com seus revólveres”. Mas perseguições incitadas a outros homossexuais confirmam: Federico foi assassinado mais por suas práticas homossexuais que subversivas.
O grande poeta, nascido em Fuentevaqueros, região de Granada, amigo de Buñuel, Dali , Salinas, respeitado por toda a sua geração por sua força criativa , perfeitamente identificada com seu tempo, seu país, sua gente, sua cultura e perfeitamente universal, deixava assim a cena, aos 39 anos, para se tornar um verdadeiro símbolo, um mártir moderno, vítima da homofobia e da opressão.
Casa de Lorca em Fuentevaqueros
Três poemas de Lorca
traduzidos por William Agel de Melo
AR DE NOTURNO
Tenho muito medo das folhas mortas,
medo dos prados cheios de orvalho.
Eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado meu coração frio.
O que é isso que soa bem longe,
Amor? O vento nas vidraças, amor meu !
Pus em ti colares com gemas de aurora.
Por que me abandonas neste caminho ?
Se vais muito longe, meu pássaro chora
e a verde vinha não dará seu vinho.
O que é isso que soa bem longe ?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu !
Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.
O que é isso que soa
bem longe ?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu !
Lorca com a família, em 1912
O POETA PEDE AO SEU AMOR QUE LHE ESCREVA
Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.
Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de kordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.
Lorca e Buñuel
Lorca e Salvador Dali
PRÓLOGO
Deixaria neste livro
toda a minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.
Que pena dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!
Que tristeza tão funda
é olhar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!
Ver passar os espectros
de vida que se apagam,
ver o homem desnudo
em Pégaso sem asas,
ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se olham e se abraçam.
Um livro de poesias
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,
e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes incute nos peitos
- entranháveis distâncias.
O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchas
de chorar o que ama.
O poeta é o médium
da Natureza
que explica sua grandeza
por meio de palavras.
O poeta compreende
todo o incompreensível
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.
Sabe que as veredas
são todas impossíveis,
e por isso de noite
vai por elas com calma.
Nos livros de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristes
e eternas caravanas
que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.
Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.
Poesia é o impossível
feito possível.Harpa
que tem em vez de cordas
corações e chamas.
Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
sem rumo a nossa barca.
Livros doces de versos
sãos os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
suas estrofes de prata.
Oh ! que penas tão fundas
e nunca remediadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam !
Deixaria neste livro toda a minha alma...
PRANTO POR LORCA
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