Símbolo de uma geração de "novos velhos"
Você com certeza conhece Vovó Delícia, personagem de Ziraldo. Se não, conheça. Vovó Delícia é uma graça. E hoje personagem bastante conhecido entre os muitos do mesmo autor.
Vovó moderna, descolada, de roupas modernas, biquine na praia, andando de moto, arranjando namorados e deliciosa na maneira de lidar com os netos.
O livro, como os outros de Ziraldo, é para crianças, narrado por uma menininha que quer clonar a avó para que todos os meninos tenham direito a avós iguais. Mas Ziraldo, neste e em outros livros, tem sido o autor brasileiro que mais trabalha sobre esta realidade, tão atual, de uma geração de “novos velhos”.
Buscando na internet, encontrei num blog uma jovem mulher, com uma filha de 4 anos que diz:” A avó de minha filha está ainda bem distante desta realidade.” Mas ela espera que exemplares reais da Vovó Delícia surjam- afirma - para os filhos de sua filha. O que quer dizer que o que ela própria quer e espera de si mesma é ser uma Vovó Delícia, quando chegar sua hora .Tomara que seja.
A moça do blog, com certeza, baseou-se em sua realidade pessoal para esta análise. Porque as Vovós Delícia já estão por aí há muito tempo, não são as avós do futuro.
A de Ziraldo foi criada em 1997, com base numa observação sociológica, não numa premonição.
É claro que esses fenômenos costumam surgir nos grandes centros e só depois chegam ao interior. Surgem em pequenos grupos isolados. Mas as Vovós Delícia e os Vovôs Delícia crescem em número, neste alvorecer do século 21. Basta olhar os dinossauros do roque que, em todo o mundo, continuam levantado platéias de todas as gerações. E não se distanciam mais tanto das gerações posteriores como costuma acontecer com os mais velhos.
Mas a sociedade ainda não os absorveu, ainda não sabe bem como lidar com este novo ser. Não que não se preocupe com isso. Ao contrário. Reconheço. Em rápida pesquisa na internet, pude ver quantos estudos e teses antropológicas, sociológicas, psico-sociológicas e afins, vem surgindo sobre os “novos velhos”. O que é um indicativo da preocupação social em absorver este novo ser. E foi ali que descobri essa designação: ”novos velhos”.
É sintomático também que o livro do Ziraldo esteja sendo adotado este ano no Ensino Fundamental.
Contudo, os “novos velhos” ainda não encontraram seu espaço social. Transitam pelo mundo dos mais jovens, é claro, e bem melhor que os “velhos velhos”, mas faltam-lhes espaços de convivência com seus iguais, espaços de linguagem e vivência comuns, de troca de experiências, espaços para fazer novas amizades e novos namorados.
Sites, blogs e programações de viagens, bailes, espetáculos de música e outros, promovidos para a chamada terceira idade ou idade maior , ou seja lá como for, destinam-se muito mais aos “velhos velhos”, que ainda são maioria. Trabalham incansavelmente sobre as mesmas pautas, de como envelhecer com saúde, de que é legal fazer exercícios, de que devem se alimentar adequadamente, de que devem ter vida social... quando o leque de interesses de um “novo velho” é imenso e extrapola em muito os temas destinados à gente de sua idade.
Tenho uma amiga Vovó Delícia que, num sábado, sentindo-se solitária, foi a um destes bailes de terceira idade, vestida como se veste, e tomou o maior chá de cadeira de toda a sua vida. Senhores dançarinos impertigados e senhoras saídas do cabeleireiro diretamente para a festa e usando roupa de ópera, a olharam e trataram com o maior preconceito. Era uma invasora naquele mundo. Rejeitada , impedida até de sentar-se à mesa de outras senhoras ( todas disseram que os lugares já estavam ocupados), ficou de pé num salão cheio de cadeiras vazias, enfrentando olhares analíticos. Aí,voltou para casa sem ter dançado uma única vez, e dormiu chorando.
O que não deixa de ter uma certa graça. E a Vovó Delícia a que me refiro conta essa história, agora, rindo. Porque rir das coisas e de si mesma é uma característica das Vovós Delícia.
Mas a verdade é que não importa quanto se tenha vivido, seremos em todas as fases da vida, o espelho social, seremos a forma como somos olhados ou invisíveis. E, ou os “novos velhos” se adaptam e se tornam “velhos velhos” rapidamente , ou se fecham em pequenos grupos onde se sentem incluídos, ou ainda se tornam solitários eminentes. Como nenhuma das três opções é desejável, o melhor é pôr-se em ação, botar a “boca no mundo”, cobrar espaços sociais, criá-los , como fazem outras minorias ( e as Vovós e Vovôs Delícia não deixam de ser uma). Abrir blogs, criar salas de bate-papo na internet, promover encontros em lugares públicos, usar a imaginação, botar pra jambrar com outros novos velhos, seus iguais.
O resto, fará o tempo. E seja a hora que for, a sociedade que for, os que vão à frente acabam pagando o preço maior. O importante é não perder a alegria. Não se desviar de seu caminho, do caminho escolhido e cultivado. O caminho natural, coerente com o jovem que se foi e o velho que se quer ser.
Neste sentido, Ziraldo vem fazendo um excelente trabalho com as crianças. Ensinando-as a respeitar e amar esta até então minoria de Vovós Delícia.
Para comprar o livro Vovó Delícia, de Ziraldo, acesse o site
Site: http://ziraldo.comprar-livro.com.br/livros/1850602599/
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Boa dica para os internautas
Os blogs não disponibilizam ainda recursos para a publicação de arquivos PPS (do tipo show de slides). Infelizmente. Tenho encontrado coisas bonitas demais, que gostaria de trazer para cá e que aguardam no computador a hora de poder publicá-los.
Sugiro então que vejam um deles, no site Adoro Cinema, sob o título Dance Comigo Até o Fim.... Trata-se de um texto de autor desconhecido sobre o envelhecer, montado sobre fotos do filme Dança Comigo, com Richard Gere, Susan Sarandon e Jenifer Lopes e a música New York, com Frank Sinatra. Leva também a assinatura de http://www.jornaldosamigos.com.br/
Vão curtir, com certeza.
7 de fev. de 2009
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