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Se ouvisse minha mãe dizendo isso, quando eu tinha 17 anos, não entenderia, mas que há belos homens de 60, 70 anos, lá isso há.
Até mais. Meu Tio Filhinho passou dos 80, gatíssimo. E Paul Newman? Meu Deus, Paul Newman! Era lindo. Morreu lindo, com 82 anos.
E quando falo em gatíssimos não me refiro ao tipo atlético, que também tem lá sua interessância. Mas há barrigunhos – diz Danusa Leão e eu aplaudo - que são show. É outra forma de beleza. E nela há baixinhos e homens grandes... cada qual com a sua graça. E há em todas idades, gente bonita. Homem bonito, mulher bonita.
Um homem bonito de 80 anos é um homem bonito de 80 anos, não alguém que foi bonito, deve ter sido bonito, guarda traços bonitos.
Até porque a beleza não é uma linha reta, mas pontilhada. Raros são aqueles que são bonitos em todas as idades, Há bebês bonitos que se tornam jovens e adultos feios, jovens feios que se tornam adultos bonitos e há mesmo aqueles que são mais bonitos na velhice.
Há homens que ganham com a barriga. Ficam mais imponentes e paternais. Há os que ganham com a idade. Jovens feios, adultos feios, bonitos na velhice, quando parece que os ossos da face, os músculos, enfim se harmonizaram todos, chegaram lá, onde queriam ir a vida inteira. Há os que ganham com os cabelos e barba brancos, suavizam. Há os que ganham até com a careca.
Se digo que aos dezessete anos não entenderia, é porque vivi experiências semelhantes com minha mãe, me falando de algum homem que ela achava bonito e eu não. E hoje eu entendo o que acontecia. Nas primeiras fases da vida, somos primários. temos o paladar primário. Com pouca suportabilidade para o amargo, o azedo, os contrastantes, acri-doce, salgado-doce, etc. Não gostamos de caviar, não gostamos de Roquefort, esses, sabores reservados à fase do paladar secundário.
Nosso bom gosto, nossa estética, também é primária, no inicio da vida. Temos uma visão mais chapada do que é ou não belo. Uma visão padronizada. Vemos as belezas mais óbvias.E é preciso chegar à fase secundária para saborear a visão de um belo sessentão, um setentão.
O que lhes falta, talvez, é a consciência desta beleza. Não que devam ficar “se achando”. "Se achar" é uma amolação em qualquer idade. Mas uma consciência verdadeira e madura da própria beleza. A famosa auto-estima ajustada. Uma consciência que dá luz, que bota pra vibrar a luz interior, e então se resplandece.
Isso me aparece adormecido nos belos homens setentões, na maioria deles que vejo passar na rua. A luz caiu, entrou em penumbra. Mas a beleza está lá.
Às vezes fico muito tempo olhando um desses homens, admirando-lhe a beleza, a beleza das marcas do tempo, e apesar delas, fico olhando. E posso olhar à vontade, que ele, em geral, nem me vê. Não vê a mim e não veria a Rainha de Sabá, não vê ninguém. Fechado no próprio mundo, envolto na própria penumbra. Se me visse, não que devesse me admirar também, mas se me visse, receberia de meus olhos essa informação: Como você é bonito. E então talvez crescesse em auto-estima. Talvez fosse bom pra ele sentir-se ainda chamando a atenção de uma mulher. Mas é como se sua luz estivesse proibida de mostrar-se : Sou um velho.
Talvez eles pensem o mesmo de nós, mulheres. Não sei. Ou talvez não. Talvez não tenham chegado nunca à fase secundária, ao paladar secundário, nunca, e nem sequer nos olhem, que dirá pensar sobre nós. Não sei, não posso avaliar.
Eu... olho os homens.
E volto a afirmar: há muitos belos homens de 60, 70 anos, e até mais.
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13 de fev. de 2009
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