Neila Tavares, Geléia Geral: O Melhor de WOODSTOCK na internet 1

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Para maiores de 60 anos

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Introdução

Aí, andei revirando a internet, em busca de Woodstock, para lembrar a você quem você é, Bicho. Anda esquecido.

Virei madrugadas pra encontrar o que tem lá do melhor daqueles três dias de paz e de loucura sã, nos idos de 69.

Mas agora, que as imagens estão aí, nos sites de compartilhamento, ao alcance de todos, você vai ter que encarar. Não vai dar mais pra fingir, não. Não vai dar pra disfarçar.

Tão entregando teu passado. Você é “doidjo”, sempre foi “muntcho doidjo”, Malandro. Tu é rebelde, guerreiro, libertário. Ninguém pertence à geração Woodstock impunemente. Nem por acaso. Você botou pra quebrar, hein? Pegou pesado.

Eu sei. Eu também tava lá. Eu vi.

E agora, chegou aos 60, à terceira idade... – ô, desculpa, idade maior, melhor idade, como é que é mais politicamente correto dizer? Quando as coisas mudam muito de nome, desconfie, esconde-se aí algum preconceito. Mas , então. Não me venha agora dar uma de velhinho bonzinho ( ái, desculpe de novo, idoso bonzinho, idosinho), acomodadinho, organizadinho e cheio de achaques. Dedicadinho à família e só. Dedicadinho aos filhos, aos netinhos, e pouco feliz. Nenhum sonho mais. Nenhum risco.Tudo pela nor-mal-idade. Ora. Não me venha de bom-mocismo agora, tá!? Olha bem o teu passado.

Tu é do barulho, do bagulho, Vovô. Quer enganar? Quer passar pro lado de lá, agora?

Não me venha com festinhas dançantes de bolero e samba-canção. Não me venha com seresta. Bolero é a mãe. Quero dizer, do tempo das nossas mães, não do nosso. Você é roquenrol, é bossa-nova, é Woodstock, é Concerto em Bangladesh, é a barra pesada de Janis Joplin, de Jimi Hendrix, do The Who, do reagge jamaicano. É Tropicália, é Torquato, é 68. Sem essa, agora, de ficar coçando o saco na frente da televisão, deprê, como na letra de Raul Esperando a morte chegar. Sem essa de ficar bordando camisetas horrorosas pros netinhos, que eles vão detestar. Essa era a sua avó, não é você.

Você devia era escalar o Everest.

Sem essa, de pegar uma excursão para Las Vegas, que teu jogo é outro, Cara. Sem essa.

Conta pra eles, conta. Conta pra moçada de Harvard, escrevendo artigos pra te ensinar como fazer sexo na sua idade, e te dizer que ainda se faz sexo na sua idade ( eles “deixam”, “autorizam”), conta pra eles o que você sabe. O que viveu, naqueles anos de libertação sexual , libertações gerais, e antes do fantasma do HIV. Diz quantos parceiros experimentou na cama. Você fez sexo adoidado, passou em revista uma, duas, dez, cem vezes, todo o Kama Sutra. Fez coisas que até deus duvida, e tudo numa boa, numa nice , sem culpa, sem grilo, sem cobrança, “no maiorramor”. Diz pra eles, diz. Que quem ensina aqui é você. É notório saber nessa matéria.

Esquece Dubai. Você devia é se embrenhar na Amazônia, antes que ela acabe. Passar uma temporada na tribo Kreneakarore quando não tiver o que fazer. Sem essa, de tédio, de desistência, de figuração num mundo de moços. Pensa bem. Moderno aqui é você.

Sem essa de roupa sem graça, sem estilo e personalidade - discreta, que te impõem como a única adequada à tua idade, e sem nada a ver com a tua cabeça, a tua tradição. Você, que rasgou o jeans, vestiu saia sendo macho, arrancou o sutiã na praia, tendo ou não os seios mais perfeitos do mundo, que a tônica não era essa. Nem passava por aí. E arrancou mais. Sacou?

Maria Gladys foi a uma festa em Londres, anos 70. Mick Jagger estava lá, vestido de bailarina. Olha aí com quem andavas.

E agora vai cortar as próprias asas? Agora?!

Vai, Bicho. Segue o teu destino de “mosca que pousou em tua sopa”. Desafina o coro dos contentes. É teu Darma. Teu Anjo é torto, louco, roto, muito louco. Encara essa até o fim, até o último ato. Até o fechar das cortinas. Vai mais, vai além. Até o último espectador deixar esse teatro. Anda.

Woodstock -1969

A montagem