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Martha e Freud - 1885É o nome de um livro, que mofava há séculos na minha estante. Ih, Esqueceram Mme Freud !, de Françoise Xenakis (Rocco, 1988). "Uma hora, eu pego e leio." Peguei.
Não li todo ainda. Só o primeiro capítulo. E não por preguiça ou desistência. É que justo o primeiro capítulo fala de Martha Bernays Freud (1861-1951), mulher de Sigmund Freud. Os outros, são sobre outras mulheres que têm em comum com Martha o fato de terem dedicado a vida a seus homens, em detrimento delas próprias. Xantipa, de Sócrates; Adèle Hugo, de Victor Hugo; Jenny Marx, de Karl Marx; e Alma Mahler, de Gustav Mahler. Mas gostei tanto de Martha Freud, que parei o livro para ler outro, recém-lançado: Mme Freud, de Nicolle Rosen ( Verus ).
Martha Freud foi muito mais importante na história da Psicanálise que eu supunha. Vivia para o marido e os seis filhos, esses últimos secundariamente. Na real, vivia mesmo era para o "professor". Cuidar dele, ouví-lo em suas angústias, alimentá-lo, ajudá-lo a escrever seus livros e a interpretar sonhos e fantasias de seus clientes.
Era uma grande intuitiva, e decifrou casos intrincados da psicanálise inaugural, como o caso de Ana O, famoso na literatura freudiana.Via, por meio de sua extraordinária intuição feminina, o que Freud não conseguia ver, envolvido com os casos e clientes. E ele chegou a preparar um consultório, no qual Marta, numa outra sala deste separada por uma pesada cortina vermelha de veludo, pudia, atrás dela , ouvir as consultas, para depois discutir com ele caso a caso.
E afora Freud, na visão de Xenakys, ser um chato, cujo único prazer na vida era colecionar peças da antiguidade clássica, mal resolvido como pai e amante, chamando a mulher por nomes de sobremesas, somatizando tudo em dores de barriga e de garganta, dermatites, frieiras, etc - e seus problemas não eram poucos, ora aclamado aqui como gênio, ora execrado ali como inimigo público , perseguido pelos nazistas, porque judeu, etc - Martha o amou até o último instante e continuou amando depois da morte.
Freud era sisudo, Martha tagarela, alegre, expansiva. Aproveitava as viagens do marido para não fazer comida, não servi-la na mesa, e comer com as crianças sanduíches até na cama.Em presença dele, era contida.
Mas, passados sete anos desde a morte do marido, ela aceitou o desafio de uma jornalista nerteamericana, Nicolle Rosen, de contar-lhe em cartas sua vida. E o faz com grande franqueza e sensibilidade e no melhor estilo literário, no segundo livro, Mme Freud.
De qualquer forma, Martha foi também amada por Freud. As cartas de amor trocadas por eles nos sete anos de noivado são agora consideradas o que de melhor se produziu neste tipo de literatura em todo o século 20. Freud nelas colocava todas as suas angústias e sonhos, expectativas e desejos, frustrações, e iniciava ali, com Martha, seu próprio processo psicanalítico.
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