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15 de dez. de 2008

Maluco por cachorro.1

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Uma história real comovente

Tenho pelos cães a mais absoluta paixão. Eles me comovem.
Não chego a ser daqueles que rejeitam os outros animais, dos que não gostam de gatos, por exemplo, porque toda a sua capacidade de afeto ao reino animal está voltado para o cão. Gosto dos bichos. Mas é o cão o que mais me encanta no contato, na convivência, na companhia, na graça.

Antiga lenda, talmúdica, conta de um mestre que ensinava ao jovem discípulo que, em cada ato da Criação, Deus pensava no homem. Para o homem, Deus teria criado o sol, as árvores, as estrelas... Pergunta então o discípulo:
- E para que Deus criou os animais?
Responde o mestre:
- Para não deixar que os homens se esqueçam da inocência.

Os cães, pra mim, se parecem com os anjos, comprometidos com a missão da evolução humana.

A arqueologia ensina que o cão foi domesticado há 12.000 anos. Os primeiros animais domesticados, antes destes, foram animais de trabalho.

O mais antigo vestígio dessa relação homens-e-cães, datado exatamente de 12.000 anos, é o conjunto de dois esqueletos encontrado em Israel: de uma mulher que morreu com a cabeça apoiada na barriga de um cão. Qual dos dois morreu primeiro e porque, não se sabe. Cismo, no entanto, que se homem e cão já tinham então esse nível de intimidade, de confiabilidade, devem ter se aproximado milhares de anos antes.

E por que aproximaram-se, homem e cão? Cogita-se que os cães tenham vindo para junto dos grupos humanos atraídos pelos restos de comida. Ou que os homens, sem garras, sem dentes afiados, de pele frágil, tenham ido buscá-los, como auxiliares de caça. Ou ainda para defendê-los, suas posses, suas famílias e crias de predadores - incluindo-se aí eles mesmos, quer dizer, os outros homens, entre seus principais predadores.

Mas sempre imagino razões mais espirituais para esta aproximação, incurável romântica que sou. E já imaginei o cão selvagem, o primeiro, observando o homem, tão solitário sob as estrelas, tão perplexo diante delas, nas suas primeiras crises existenciais, e atraído e sensibilizado por esse estado de desarvoro diante do mundo, o cão lhe tenha vindo fazer companhia.

Na história dessa longa amizade, a vantagem maior foi do homem, nem sempre merecedor da dedicação e da fidelidade caninas, de sua enorme capacidade de perdão.

A evolução não é linear, no sentido darwiniano. Mas também não o é, no sentido espiritual. Somos doces e somos bárbaros, ao mesmo tempo, e – dizia Nelson Rodrigues – “ora resplandecemos como santos de vitrais, ora rugimos como faunos de tapetes.”

Não se pode negar, entretanto, que apesar de sua instabilidade emocional, sua tendência ainda não superada à barbárie, suas dificuldades em lidar com o amor, o homem, genericamente, também amou e ama os cães.


Esta semana recebi de Reluz, por email, fotos de um cão muito amado. Nasceu sem as pernas dianteiras. E, estivesse ele ainda na vida selvagem, não sobreviveria. Mas nasceu no seio de uma família que o amou muito. E, em razão deste amor correspondido, da capacidade de imitação daqueles a quem o cão ama e admira, daqueles que adotou como seu bando, encontrou formas extraordinárias de superação. O amor da família - mostram as fotos - também contaminou a comunidade. Eis uma característica indiscutível do amor, salvadora: o amor se espraia e contamina. E tudo pode.










Continua na publicação abaixo, para ver outros momentos deste cão extraordinário, com seus filhos e amigos.

( Marcador: Outras histórias)

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