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14 de set. de 2008

Aniversário



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A Espera

Esta semana, faço sessenta anos.
Meu Deus, são sessenta anos! E, se de um lado, parece que já vivi um século inteiro, dois - como um Drácula - do outro, tudo passou tão rápido! Foram dias, minutos talvez. Segundos, quem sabe? Tão rápido!

Outro dia, eu dizia a uma amiga, no telefone:
“ Eu ainda nem amadureci... Como é que já envelheci?”
Não amadureci. Continuei boba, boba. Continuei esperando, esperando não sei o quê... alguma coisa linda me acontecer. E aconteceram. Aconteceu o amor, aconteceram os prazeres no trabalho, aconteceram as filhas, aconteceram os netos, aconteceram amigos, tantos e tão duradouros - Estes, quanto mais velhos, melhores.

Mas eu ainda espero. Não sei. Outras coisas. Espero. Uma espera romântica, do tipo pltônica. Mas não é de um amor, especificamente, não é de uma paixão. Seria bom, se acontecesse. Se o coração voltasse a bater feito louco pela presença ou pelo cheiro de um homem. Um homem, para beijar na boca.
Mas não é essa a espera.

É uma espera imprecisa, sem rumo, sem chegada, sem direção, que não diz a que vem. Uma espera, só. E acho mesmo possível que essa espera imprecisa só se tenha instalado em mim, agora, que perdi a pressa, com o tempo.
Mas, se menos tempo me resta, não era de se esperar que tivesse mais pressa?
Por que tenho agora menos, então?

Continuei olhando o mundo com um espanto infantil. Boquiaberta, diante do mundo.
“ Éééééééé?” Mas eu já não devia saber que é? Que surpresa é essa, com o mundo, ainda?
Até quando, surpresa? Até quando: “Ééééééé???” Sei lá.
Não. Não amadureci. Maturidade é isso. É não fazer mais "Ééééééé????"

E aí, eu espero.


O tempo

O tempo... Coisa estranha, coisa esquisita é o tempo. Coisa doida. Eu, hein!?

O tempo, que tudo cura , é o que nos devora.
O tempo, o único que ensina, é o que te engana.
Nada mais real que o tempo, nada mais concreto. E, no entanto, intangível. Ilusório. Imaterial.

O tempo grita, se se quer que sussurre.
E fala baixinho, segreda, quando era melhor que gritasse, para se fazer entender. Se mostra num canto, assusta, e se esconde depois, traiçoeiro...

Só por causa do tempo é que se é. Tudo que somos, é o que o tempo nos fez ser.
O mesmo que nos carrega ao Não- Ser. Nos leva de volta ao Não- Ser, de onde nos trouxe, sem quê nem pra quê.
Ou será que é para outro Não-Ser? Não responde.
O tempo nunca responde. Não peça respostas ao tempo.

O tempo não engana. Engana, engana. Quando quer, nos engana.
O tempo não esconde. Revela. Mas não se revela.
O tempo não perdoa. Mas só ele nos pode fazer perdoar.
O tempo é cruel. E nada mais tão generoso.
Faz-se curto aqui, longo acolá. Testemunha tudo, registra, carimba, e apaga o que quer...
Apaga, apaga. Se cismar, apaga. Apaga lugares, fatos, pessoas, civilizações, países, continentes, sentimentos...
E o que tempo apagou, nunca existiu?

Manda e desmanda...
Faz de nós gato e sapato...

Será que o tempo é Deus?


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